quinta-feira, setembro 15, 2005

Na era das TIC

Não fui das primeiras pessoas a ter telemóvel. Quase posso dizer que resolvi render-me aos seus encantos por necessidade. Nos primeiros meses não o usava. Não dei o meu número a ninguém. Escondia-o na mala apesar de ser enorme. Não vou dizer que parecia um telecomando. Qualquer telecomando por grande que seja teria uma tamanho bastante razoável se comparado com aquela embalagem de quilo de açúcar negro que eu transportava discretamente comigo. Transportava-o quase sempre para uma eventual situação de necessidade extrema. Essa situação ocorreu. E qualquer pessoa sensata me diria que tinha feito bem em adquirir o telemóvel - “vês como faz falta?”. Pois fez, mas nesse dia o meu querido telemóvel estava sem bateria e foi um condutor que passou na estrada e que não tinha telemóvel que me levou até ao telefone mais próximo.
Também não fui das primeiras pessoas a idolatrar os computadores. Aprendi, enquanto estudante, qualquer coisa que nunca usei e foi bem mais tarde que, errando muitas vezes e perdendo alguns trabalhos, aprendi o que hoje utilizo e que também não faz de mim uma conhecedora desta máquina.
Quanto à Internet… bem, não poderia ser diferente e também não me despertou o interesse muito cedo. Haverá certamente pela rede muitos endereços de correio electrónico que eu tentei criar, ou terei criado, mas aos quais nunca soube aceder e quando comecei a fazer o que considero essencial com relativa facilidade não tinha ideia do que tinha feito anteriormente.
Passei cinco dias sem acesso à Internet e com o telemóvel quase sem rede, conseguindo falar menos de um minuto de cada vez, e durante esses dias senti-me completamente isolada do mundo. Neste momento não entendo como sobrevivi tantos anos sem estas máquinas. Não falo, naturalmente, dos anos que antecederam a sua invenção mas como é que eu não fui das primeiras pessoas a interessar-me por estas maquinetas milagrosas logo após a sua comercialização?!? A natureza humana é mesmo misteriosa.Ontem passei em frente a um netcafé e parei um bocado a olhar: 15 minutos 0,50€, 30 minutos 1€ e 1 hora 2€. Ainda pensei entrar mas depois decidi “não é nada disto que eu quero”. Eu não quero poder usar a Internet 15 minutos ou uma hora. Nem sequer duas. Eu quero usar por tempo indeterminado. Ver e actualizar o correio com calma. Visitar os sites habituais. Perder-me a encontrar outros que não conheço. Depois de cinco dias sem ter um vislumbre cibernáutico entrar num netcafé e comprar uma hora far-me-ia sentir pior do que passar mais cinco dias sem qualquer contacto com o mundo virtual. Será um vício? Talvez. Mas se for quero-o por inteiro e recuso-me a administrá-lo em pequenas doses. (Ana)