sexta-feira, dezembro 30, 2005

FELIZ 2006














INUENDO-QUEEN



While the sun hangs in the sky and the desert has sand
While the waves crash in the sea and meet the land
While there's a wind and the stars and the rainbow
Till the mountains crumble into the plain
Oh yes we'll keep on tryin'
Tread that fine line
Oh we'll keep on tryin' yeah
Just passing our time
While we live according to race, colour or creed
While we rule by blind madness and pure greed
Our lives dictated by tradition, superstition, false religion
Through the eons, and on and on
Oh yes we'll keep on tryin'
We'll tread that fine line
Oh we'll keep on tryin'
Till the end of time
Till the end of time

Through the sorrow all through our splendour
Don't take offence at my innuendo

You can be anything you want to be
Just turn yourself into anything you think that you could ever be
Be free with your tempo, be free be free
Surrender your ego - be free, be free to yourself

Oooh, ooh -
If there's a God or any kind of justice under the sky
If there's a point, if there's a reason to live or die
If there's an answer to the questions we feel bound to ask
Show yourself - destroy our fears - release your mask
Oh yes we'll keep on trying
Hey tread that fine line
Yeah we'll keep on smiling yeah
And whatever will be - will be
We'll just keep on trying
We'll just keep on trying
Till the end of time
Till the end of time
Till the end of time



É com estas palavras que termino este ano.
Com esta mensagem de ESPERANÇA e de PERSEVERANÇA em forma de letra de canção.
Pena é que seja em inglês, mas as coisas belas não têm nacionalidade
Para todos um ANO NOVO FARTO DE COISAS BOAS.

Rui

quinta-feira, dezembro 29, 2005

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Diálogos II









— Tenho a certeza!
— Como é que tens a certeza?
— Tenho.
— Mas tens porquê?
— Porque sim.
— Isso não é resposta.
— Então não é?
— Não, não é! Como é que sabes e tens a certeza?
— Houve alguém que me disse.
— Quem?
— Toda a gente sabe disso.
— Toda a gente? Como toda a gente? Diz-me lá quem te disse.
— Ora… disseram-me.
— E tu acreditaste?
— Claro, quem me disse leu não sei onde.
— Mas como é que podes ter a certeza que é mesmo assim?
— Tendo. Eu acredito na pessoa que me contou.
— Na tal pessoa que leu?
— Leu ou ouviu na televisão num documentário.

Rui



sexta-feira, dezembro 23, 2005

quinta-feira, dezembro 22, 2005

DESPERTARES

















-Abriu primeiro o olho direito e depois o esquerdo com esforço considerável. Esticou-se lenta e preguiçosamente, delicadamente como uma flor que abre as pétalas ao sol primaveril. Era a elegância dos gestos, a lentidão quase pensada, com que esticava cada um dos membros e com que tacteava com os dedos alongados, o sofá em que adormecera. Olhou em volta e abriu a boca no seu ritual de acordar, leeeenntameeeente e bocejou.

-Parou apenas um momento e respirou profundamente. Era como se visse o mundo pela primeira vez. Como se a cada despertar tudo fosse novo, diferente e belo para si. A cada despertar uma vida nova dentro de um dia novo. Olhou o sol lá fora, invernoso e pálido, mas brilhante e quente e desejou-o acima de todas as coisas. Desejou deitar-se sob ele e absorver-lhe com a pele o brilho e o calor e ficar assim para sempre nessa indolência sem pecado.

-Reparou com especial atenção no movimento de um pequeno ramo que oscilava para lá da cortina da janela e projectava a sua sombra. Recordou-se de outros despertares, de outros ramos ondulantes e vagamente de acordar com companhia ali a seu lado. Sentiu uma saudade indescritível.

-Desceu até ao chão que pisou mansamente com passos decididos e silenciosos como se dançasse uma complicada coreografia mil vezes ensaiada. Sentou-se no chão tépido, aquecido pelo sol da manhã e gozou a sensação. Começou então, devagar, a lamber as patas e depois o resto do pelo.

Rui

terça-feira, dezembro 20, 2005

ESCREVER






Cada vez, tenho menos vontade de escrever e de cada vez que o tento, a inspiração e a vontade de o fazer fogem como se tivessem visto um “papão” ignóbil. O ruído das teclas surge hesitante e vago como vagos são os dedos que as primem e as ideias que surgem a negro sobre esta imitação electrónica de papel.

No entanto sei que a inspiração existe, que anda por aí na sua vida habitual, apenas longe e descrente de mim.

Nada do que escrevo parece ter qualquer nexo que não seja o da lamentação, um desfiar de tristezas em rosário rezado uma vez e outra.

Nunca tive a ideia de influenciar quem quer que fosse ou sequer de procurar palavras de alívio no retorno da leitura. Não, o que escrevo não me merece a mim comentários. Não me reconheço sequer qualidade na escrita, bem ao inverso, escrevo apenas porque sim e porque não e já são duas razões excelentes para que não deixe do fazer. Talvez as duas únicas razões que vislumbro daqui, deste limbo onde estou agora.

Um blog não passa de um espaço público em que estendemos a nossa alma a corar ao sol dos olhos que nos lêem. Se alguém se influenciar com o que escrevo que o faça. Caso contrario continuarei a escrever porque escrever é um modo de pensar, de sentir.

Já escrevi demais, acerca de “escrever”. Talvez um dia volte ao assunto.

Mas é In-Provavel.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Fazes-me falta












Fazes-me falta Ana, tanta falta!

Duas pessoas, duas visões, um amor e uma morte.
Este livro escrito com a aparente facilidade de quem sente, é uma magnífica obra acerca da saudade e das ocasiões perdidas para sempre, por culpa da cegueira que existe em todos nós quando fechamos os olhos ao amor. É sem duvida uma obra triste mas “imperdivel” para quem conjugue o verbo sentir na sua pessoa ou na de alguém.

Pela parte que me toca, tornou-se um objecto de culto e uma fonte de saudade por si só. Bem-haja quem mo ofereceu.

Rui

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Tempus












-Ela vivia cinco minutos depois de tudo e sabia sempre tudo o que sucedera cinco minutos antes . Os seus dias estavam cheios de certezas, que obtinha concluíndo das razões que conhecia antecipadamente. Nada a fazia mudar de ideias nem nada a inquietava jamais, porque sabia o que se passara há cinco minutos. Tinha os dias da vida cheios de presente e de futuro, separados por trezentos segundos bem contados. Desperdiçava o tempo que tinha sem sequer olhar para trás.


-Ele vivia atrasado cinco minutos. As suas horas estavam cheias de melancôlia do passado e do futuro que estava para si mais distante ainda, do que para toda a gente que conhecia. Tinha sido abandonado como uma lata velha por uma mulher que não era sua mas que era especial e ele só o soube dali a cinco minutos. Estava farto de si mesmo, farto dos amigos, dos relógios, farto até de estar farto de tudo. Ele não tinha tempo e via-o a fugir de si cada vez mais.

-O futuro esperava-os em silêncio mas eles com os medos, as dúvidas e as certezas não o viram e passaram por ele com dez minutos de intervalo.

Rui

quarta-feira, dezembro 14, 2005

PRECISA-SE



















Anúncio In-Provavel

Rui

terça-feira, dezembro 13, 2005

Matar Saudades












-
Estava ali apenas. Estava ali parada como o seu olhar estava parado. Pareciam, ela e o olhar, esperar alguma coisa. Talvez fosse o autocarro que havia de levá-la a casa de um filho ou de um de um neto. Domingo, dia de almoço familiar numa casa cheia de alegria, crianças a correr gritando e fazendo barulho; Televisão alta e cheiro de carne assada e pudim. Filhos, netos, talvez bisnetos a rever, a ter ao colo, a dar beijos, a matar saudades. Lembrava-me vagamente a minha mãe; mas todas as mulheres de ar simples e olhos bondosos me lembram a minha mãe.
-Sabes… o meu pai morreu quando eu tinha quinze anos. Diziam-me que essa era a pior idade para se perder o pai. Mas hoje sei que não existe nenhuma idade boa para coisas tão más. A minha mãe então, ficou sozinha comigo e quando digo sozinha insisto no que digo. Naquela idade quando já se tem a chave de casa e a convicção de ser crescido, tudo no mundo são estradas que nos afastam de casa. No entanto, nunca passei uma Páscoa que não fosse com ela, um Natal que não lhe visse os olhos tristes e cinzentos que antes haviam sido verde-água-alegre.
-Não, não me deixava fazer tudo o que eu queria, bastava-lhe pedi-lo e a mim bastava-me que o pedisse.
-Hoje, quando vejo uma mulher de olhos bondosos lembro-me sempre da minha mãe.

-Chegou o autocarro e quando lhe vi o saco de roupa suja, maior do que ela e talvez tão pesado quanto ela, lembrei-me da proximidade do estabelecimento prisional; Lembrei-me das visitas dos domingos de manhã, reservadas apenas a familiares próximos. Há anos que assistia àquele desfilar de sacos dominicais nas proximidades de casa.

Talvez um filho, um neto ou talvez um bisneto? A matar saudades.

Rui

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Estranha forma de Ecologia



-
Vá, vamos já ajudar a limpar o planeta terra desta escória humana que nos polui a vida e a sociedade.

-Acima de tudo fume, conduza sem cinto de segurança sempre e se for mota o que o transporta nunca, mas nunca use capacete. Coma comida rápida a cada refeição em sempre em grande quantidade. Ande apenas o essencial a pé e faça sempre sexo sem usar preservativo. Não se vacine, não olhe sequer quando atravessar fora das passadeiras e nada de respeitar os limites de velocidade, seja insalubre. Caminhe de noite, horas altas, pelos piores bairros da sua cidade e frequente todos os pardieiros que puder buscando sempre as piores companhias. Manipule explosivos, substancias tóxicas e se possível radioactivas. Meta os dedos nas tomadas, tome carradas de comprimidos, ateste-se de álcool em simultâneo e porque não? Tome drogas, das pesadas de preferência. Adormeça sempre com um cigarro aceso nos dedos, durma o menos que puder e responda sempre mal a quem lhe buzine.

-Mas sobretudo apaixone-se, apaixone-se profundamente e julgue-se correspondido.

-Enfim goze a vida e morra no processo.


Rui

domingo, dezembro 11, 2005

O Mundo Está Perdido













O Mundo está desequilibrado.
O Mundo está perdido.
Esta nova geração não é tão capaz como foi a nossa.
A juventude de hoje não tem valores morais nem princípios éticos.
Os jovens são superficiais, apenas buscam o prazer.
Vivemos o primado do egoísmo.
O mundo está perdido.



-Estas frases, são proferidas com algum desespero passivo por quem perdeu o rumo dos dias, ou se perdeu nele. Por quem vê o seu fim a cada passo mais perto e assim expressa a sua própria desgraça, tristeza e amargura. É muito mais a alma do observador/comentador que se ouve do que a constatação dos factos que observa e de que tira as conclusões. São fruto da descrença e das esperanças frustradas; Da cegueira para com a mudança e da incapacidade de abrir os sentidos e o coração à constante e perpétua mudança social a que chamo evolução e aperfeiçoamento. Tudo é mutável, até mesmo os grandes valores se adaptam às consciências novas e estas a eles sem que deixem de existir.

-O mais profundo significado que atribuo à expressão “alma velha” é este. É o acto de permanecer de braços caídos, cego, surdo e estúpido perante as mudanças que nos arrastam na corrente dos dias. Esta atitude é a que conduz e reduz a uma argumentação maldizente, simultaneamente símbolo de paragem e de desejo de retrocesso, que nos manteria como seres humanos vivos com sombra de cadáveres.

-Infelizmente não vejo estas atitudes apenas como devaneios de velhos. São bem mais e pior do que apenas isso traduzem a incultura e estreiteza de pensamento de muita gente.

-Li não me recordo onde, a tradução de um documento encontrado durante uma escavação arqueológica, talvez Suméria, mas não posso precisar e que aqui reproduzo de memória:

-Os meus filhos não têm valores nem a sua geração.
-O meu pai, o meu avô e os seus avós trabalharam e viveram sempre com a honra que me deixaram e que eu queria para os meus filhos, netos e bisnetos. Mas eles não a desejam. Este mundo tal como o conheço está perdido.
-No entanto, isto ouvi-o ao meu pai acerca da minha geração, ele ao meu avô acerca da sua e este ao seu pai acerca da dele. Ainda assim existimos melhor do que nos tempos antigos e distantes.
-Talvez o mundo seja assim e eu esteja errado como eles estavam”

-No futuro veremos.

Rui

sábado, dezembro 10, 2005

Voar
















-Quando somos novos uma grande parte do tempo que temos é dispendido numa quase incessante busca de novas sensações, diversão e experiências. Admiramos a sensação que nos traz a queda no vazio, a velocidade e a vertigem da busca de felicidade.

-Depois crescemos, seja lá isso o que for, desenvolvemos medos e receios e já não nos lançamos nos ares de braços e coração aberto. Temos medo que ninguém nos ajude na queda e que não haja quem nos estenda os braços para nos ajudar a reerguer. Já não nos aproximamos da borda do abismo e receamos a proximidade de tudo o que não conhecemos, que nos assusta e que seja novo. Temos medo e recuamos, temos medo e não voamos, temos medo e paramos de crescer por dentro. Medo de partir uns ossos ou o coração e já não voamos.



“Ele levou-os à beira do abismo e então disse-lhes:

-Saltem!

Eles estremeceram, deram um passo a trás e não saltaram.

Ele então olhou-os nos olhos e repetiu:

-Saltem!!

Eles então voaram...”


Rui

sexta-feira, dezembro 09, 2005

sobre a minha cidade

sobre a minha cidade, falei-te ontem, mostrei-te
as esquinas do tempo, a imagem de fachadas
que ainda conheci, de outras que
eu próprio ignorava; sobre

a minha cidade e suas pedras, seus espaços
de árvores graves; e o que foi arrasado,
ou está a desfazer-se; as manchas do presente, a
poluição dos homens; e o que foi

violentamente arrancado por negócios sucessivos,
erros, brutalidades: o que era e o que foi
o que é dentro de mim o seu obscuro,
imaginário ser: costumes e conflitos,

maneiras de falar, a gente
e a confusão das ruas, as casas do barredo;
sobre a minha cidade achei que tu
tiveste gratidão, a viste.

que percorreste as pontes que a minha
cidade a ti me trazem, entre
gaivotas alastrando e músicas diferentes,
e foste nascer nela.

(poema de Vasco Graça Moura)

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Carta ao pai natal

















-Tenho que confessar que nunca acreditei, nem em ti, nem na tua existência. Mesmo quando tinha idade para acreditar em ti, não era em ti mas no menino Jesus que acreditava. Não sei bem porquê, talvez por tradição familiar, cultural ou apenas talvez porquê sim.
-A ti, pensei-te sempre como um ser de ficção, de filmes e de outra cultura que não era e não é a minha. Que esperavas? Deixaste que te vestissem com a cor da coca-cola e te colocassem umas barbas como as do Ho-Chi-Min que me aterrorizava sempre que aparecia nos telejornais da noite quando era criança.
-Ainda não me apresentei, apenas porque me dizem que sabes tudo acerca de todas a gente, com uma espécie de omnisciência emprestada por Deus. Sobretudo, dizem-me que sabes tudo acerca de todas as crianças e eu tenho alguns aspectos em que quero ser sempre criança e por isso saberás tudo acerca de mim também.
-Lembrei-me agora que além de tudo o que te contei já, também nunca tive uma chaminé em que pudesses passar em condições. Não, não estou a insinuar que sejas gordo. É que esse fato que usas não deve mesmo dar jeito nenhum para essas descidas e subidas em espaços tão apertados como são as chaminés das cidades de agora.
-Bem...depois a vida foi mudando. Foi-se tornando a cada ano mais complicada e era-me difícil, e ainda é, acreditar na existência de alguém que nunca vira como me é difícil acreditar em algo que não sinto. Lá fui vivendo então, sem ti e muitas vezes até sem Natal. Lá fui passando pela época, muitas vezes desejando apenas que ela passasse por mim o mais depressa possível. Desejando que se extinguissem dos rostos os sorrisos de plástico e se calassem as saudações e os votos de circunstância.
-Via-te, apesar de tudo, em todos os locais por onde passava. Mais alto ou mais baixo, mais magro ou mais gordo... Forte, era forte que queria dizer! Com a barba lisa ou encaracolada, amarelada de fumo de cigarro ou imaculadamente branca, côr de plástico barato. Encontro-te a cada passo nas grandes superfícies em promoções oportunistas de quase tudo e na Internet. Vejo-te pendurado de varandas como um ladrão e em centros comerciais a segurar criancinhas com ar enfastiado, "para a fotografia". Vejo-te nas ruas, a abanar campaínhas e a pedinchar moedas para instituições que nem sei muitas vezes se existem ou a que fins se destinam. Até já te encontrei numa casa de banho pública a fazer o mesmo que eu, com ar aliviado, a fumares quase às escondidas um cigarro e saíste sem teres lavado as mãos.
-Mas, …enfim, tudo isso é passado e deve ficar no local a que pertence que é o passado.
Hoje, escrevo-te a primeira carta em quarenta e um anos para te fazer um pedido. Não é nada de impossível, e eu não sei, nem nunca soube, pedir o que quer que fosse. Que queres? O meu orgulho, como algumas das minhas convicções já não é como era e por vezes, o desespero leva a que engulamos o orgulho e até se aprende a pedir ao Pai Natal. Tu sabes tudo isso . Sabes bem o que sou e que sou apenas como sou. Sabes o que mais desejo, como, e porquê. Por isso não te vou maçar repetindo o que já sabes. Caso possas, agradecia a tua atenção mas talvez nem tu possas… Se sim, prometo passar a acreditar em ti, mais até do que acredito em mim. Prometo-te que vou comprar uma imagem tua e colocá-la sobre a lareira todo o ano e nunca me esquecer de te deixar um copo de leite e bolachas, ou se preferires, champanhe e salmão fumado; Do importado está claro!
-Fica bem. Evita o colesterol e mede a pressão arterial com regularidade. Tem cuidado contigo que o mundo está cheio de coisas más e as noites estão frias como o coração de muitas pessoas.
Teu amigo:

Rui

PS - Como sabes e com certeza compreendes, enviei uma carta ao Menino Jesus acerca do mesmo assunto. É que nestas coisas mais vale tentar jogar pelo seguro.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Palavras e Sonhos













---------Hoje mesmo, uma pessoa que muito respeito e considero, vai ter ocasião de publicar mais um livro.
---------É pelas 18:00 horas no Salão Nobre da Junta de Freguesia de Stº. Ildefonso no Porto e a apresentação da Obra será feita por: Mário Cláudio (Prémio Pessoa 2004) e por Snr. D. Manuel Martins (Bispo Emérito de Setúbal).

-----------Estarei lá presente e deixo aqui um pequeno texto extraído dessa obra.
---------- Sei bem o quanto o mundo lhe deve e o quanto ele jamais lhe cobrou. Se juntarmos uma vida e uma carreira ao serviço dos outros, dificilmente conseguiremos obter um tão brilhante resultado; Pleno de dádiva e de HUMANIDADE.
---------Ao meu, ouso chamar-lhe amigo, Dr. Alexandrino Brochado, o meu abraço de admiração.

LOUVOR DOS POETAS

Não se trata dum apego exagerado a coisas velhas que já morreram. Os cadáveres enterram-se.
A beleza e a arte verdadeiras nunca morrem. Ultrapassam o tempo. Têm o selo da perenidade.

Trata-se, sim, duma expressão de mágoa pelo abandono, pela rejeição de valores que sempre julgamos fora e acima de qualquer ataque ou inflação.

Há dias, numa homenagem prestada a um artista (com letra grande) português, este, ao agradecer as palavras de apreço e de carinho, afirmou: “A vida do artista é dura e áspera sobretudo no país em que vivemos. Aconteceu-me uma fatalidade: acabei uma nova obra… As composições ficam na gaveta, serão vendidas a peso e servirão para embrulhar sabão (o que já aconteceu) ou para buchas de foguetes…”

Palavras duras, magoadas, dum grande vulto da música portuguesa contemporânea! Sinceramente, tive e tenho pena que no podium da arte e da beleza sejam colocados pseudo artistas sem valor, sem dimensão e que os autênticos, os verdadeiros, sejam atirados para a prateleira das coisas velhas e inúteis, cobertas de pó.

E o que dizemos da música, afirmamo-lo da literatura. No momento em que entre nós a arte de escrever, cada dia mais se corrompe e se profana, sob o influxo de todos os estrangeirismos e extravagâncias, da grosseria e do calão, a gramática e a clareza, a elegância e a decência da expressão tornaram-se virtudes clandestinas de cultores atrasados, de velhos ritos.

Escrever mal é hoje uma escola. Parece que o desalinho da linguagem, as tropelias das palavras, o desmazelo da forma são hoje atributos do pensamento. Estilo hoje é palavra soez, é truculência da imagem, é obscuridade rebarbativa. A clareza, a simplicidade, são sinais de frivolidade, o brilho do estilo, uma inferioridade de gosto.

A arte é essencialmente expressão, expressão na cor, expressão plástica, expressão musical e não uma autêntica caldeirada literária ié-ié, como por vezes se verifica. Escrever não é amassar e ligar palavras como quem frita batatas. Pode ser-se profundo sem se ser obscuro ou cair em preciosismos de linguagem. Pode ser-se brilhante sem ser exótico; pode ser-se elegante sem ser arrebicado. A prosa pode ser viril sem cheirar a suor, nem ter as unhas sujas.

É sobretudo no trabalho da expressão estética que está a obra de arte e na sua criação o artista que a inspira e molda. E que dizer da mania de banir por completo o uso das maiúsculas? Será que a exigência da igualdade é tal que até no reino das palavras não se toleram diferenciações? A rasoira da igualdade total instalou-se também no mundo das letras?

Há tempos, lemos um artigo de pessoa com responsabilidade, em jornal também com responsabilidade, onde não aparecia um único ponto final nem uma única vírgula. Até a palavra Deus (parece um sacrilégio) estava grafada com minúscula!

Simples extravagância e ânsia incontida de originalidade ou insinuação duma ideia igualitária que domina todos os espíritos e parece ser a única preocupação do nosso tempo? Até para as artes os tempos são difíceis! Os jovens, que têm às suas costas a grande responsabilidade de construir um mundo novo e melhor, parecem deixar-se dominar pela psicose de escaqueirar todas as estruturas vigentes.

Há uma espécie de alergia a tudo o que é sensatez, madureza e apoio aos valores do espírito. E a ingenuidade, a falta de densidade mental nas afirmações e nas atitudes começam a vir ao de cima e a exercer um domínio despótico.

Na música e na literatura os sinais de desorientação e de rebeldia contra regras e cânones são por demais evidentes. E, numa atitude de inconsciência e irresponsabilidade, muitos buscam o subterfúgio do grito desenfreado, do sapateado nervoso e da mímica histérica. A música ficou reduzida a isto. E a prosa fresca e elegante? Tudo parece esboroar-se num mundo às apalpadelas e em busca de qualquer coisa que lhe foge rindo-se dele. Ironia da vida!

Até para as artes os tempos estão difíceis!

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