sábado, setembro 10, 2005

Anas

Um destes dias, enquanto aguardava quase em desespero que as 150 senhas à minha frente fossem atendidas, saí da sala de espera e sentei-me nos degraus junto à porta de entrada. Foi aí que conheci a Ana. Uma simpática menina, quase 30 anos mais nova do que eu e que saíra pouco depois de mim. O diálogo foi aproximadamente o que se segue e foi ela quem o iniciou.
- Olá, como te chamas?
- Olá, chamo-me Ana, e tu?
- Eu também me chamo Ana. Temos o mesmo nome, podemos ser amigas!
- Podemos.
- Porque vieste para a rua?
- Porque ainda tenho de esperar muito tempo e estava muita gente lá dentro.
- Não gostas de muita gente?
- Às vezes gosto mas agora estavam a fazer muito barulho.
- Não gostas de barulho?
- Bem… não costumo gostar. Tu gostas?
- Gosto. Estás sentada no chão… a tua mãe não ralha contigo?
- (E agora? Como é que respondo a isto???) Hoje não, sabe que só me sentei no chão porque estou muito cansada.
- Estás a ler uma história?
- Estou, queres que te leia um bocadinho?
- Quero!!!
Imaginei que não se interessaria muito por David Lodge e comecei a inventar uma história absurda e completamente incoerente com patinhos e meninos, um lago e uma casinha e mais uns quantos pormenores, igualmente originais, que me ocorreram para responder às ininterruptas questões que a minha atenta ouvinte colocava.
Poucos minutos depois a mãe, que tinha a sorte de já ter sido atendida e só tivera de esperar uma hora e meia, saiu e agradeceu-me a companhia. Não tinha nada a agradecer. É bom inverter os papéis de vez em quando e fez-me bem aquela conversa em que me senti a pequena Ana a responder de forma atabalhoada às perguntas da Ana adulta de palmo e meio. (Ana)