Hoje de manha, a minha “errância matino-dominical” levou-me a uma das mais conceituadas lojas da minha cidade e onde acreditava ser possível comprar uma caixa de CD’s para gravar sem ser molestado, importunado, impedido de caminhar e incomodado por ninguém. Muito provavelmente, desde a minha ultima visita o gerente da loja deve ter feito um curso daqueles que não servem para nada mas a que chamam formação contínua na área de vendas; ou isso, ou acordou com uma terrível ressaca e decidiu que os “assistentes de loja”, deveriam a partir desse dia tornar a vida impossível aos possíveis clientes assaltando-os com exagerada e não solicitada simpatia e solicitude.
-BOM DIA!!!! - Disparou sobre mim uma simpática criatura que exibia colado no rosto o mais falso sorriso que algum dia tinha visto – Como posso ser-lhe útil hoje?
Reparei bem nela nessa altura, notei que se “plantara” solidamente entre o que eu estava a observar e a minha pessoa, que se encontrava armada com uma capa rígida e que parecia ameaçar-me com uma esferográfica bic no caso de eu não lhe responder.
-BOM DIA. – Respondi com um sorriso tão falso quanto o dela.
-Posso ajudá-lo nalguma coisa?
-Eu sei o que procuro, mas obrigado na mesma. – Respondi quando apenas me apetecia empurrá-la da minha frente e continuar o meu caminho.
Podia jurar que a resposta a insultou mas ainda assim deixou que passasse sem insistir.
Não tinha ainda dado doze passos quando um rapaz, com o cabelo apanhado em rabo-de-cavalo e de camisa ás riscas da mesma cor da gravata se materializou à minha frente e à queima-roupa me disparou outro “bom dia”.
-Olá!
-Como posso ser-lhe útil hoje?
-Só quero comprar uma caixa de CD’s graváveis!
-Tem gravador de Cd’s?
Nesta altura fiquei indeciso entre insultá-lo, agredi-lo ou fugir daquele manicómio a sete pés mas depois recordei-me que devem suportar por ali gente que não sabe mesmo o que anda a fazer neste planeta.
-Sim… Tenho gravador de CD’s!
-E, se me permite que quantidade pretende comprar?
-Uma caixa de vinte e cinco CD’s.
-Hum… mas assim sai-lhe mais caro do que comprar de cinquenta ou de cem.
Nesta altura eu já rosnava e procurava no seu pescoço um ponto, acima da gravata torta, para no mínimo agarrar com ambas as mãos e não voltar a largar até que se calasse ou desaparecesse para o buraco de onde tinha saído.
-Posso recomendar-lhe que a marca “X”?
-NÃO! Não, muito obrigado!
-Mas repare que estão em promoção!
-N-Ã-O, m-u-i-t-o o-b-r-i-g-a-d-o! Disse quase encostando a minha testa à sua e carregando bem em cada uma das letras.
-E posso perguntar porquê?
-Claro eu apenas…
-Então cá vai: não compro essa marca por ser uma valente porcaria. Por já a conhecer, estar farto de CD’s estragados que não duram coisa nenhuma e que se recusam a deixar-se reproduzir em condições! Nem que os estivessem a dar em caixas de quinhentos eu os queria! Entendido agora?
-O senhor desculpe eu só queria…
Não o deixei terminar a frase. Contornei-o, e dando-lhe uma pancadinha no ombro disse-lhe: “ Eu compreendo, com licença e muito bom dia!”
Comecei a caminhar na direcção que pretendia mas ainda o ouvi dizer baixinho algo acerca de reclamar da qualidade da marca “X” junto da gerência.
Mal pude agarrei com ambas as mãos a embalagem sem sequer olhar ao preço e dirigi-me ao balcão para pagar e de onde me saudava já com um sonoro “-BOM DIA!!!!” a menina para lá da caixa.
-Posso ajudá-lo?
-Claro! Pode dizer-me quanto tenho que pagar aceitar o meu dinheiro e colocar a compra num saco por favor…mas só isso. – Rosnei eu o mais calmo possível.
-Pode e respondo-lhe já que foi simpático, demasiado simpático até.
Mas ela não entendeu o que eu dissera ou não se deu ao trabalho de movimentar o único neurónio e prossegui sorridente: “Ainda bem…então com certeza não se importa de me preencher um inquérito acerca da qualidade de atendimento? …É muito rápido!”
Rui
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