-Não entendo nem penso vir a entender o porquê de tanta gente inteligente acreditar quando um pedreiro, carpinteiro, electricista, pintor ou outro profissional de reparações em geral e afins, afirma: “Próxima segunda-feira, sem falta”.
-Toda a gente sabe que para esta estirpe de trabalhadores, a segunda-feira próxima significa um período variável que pode ir de quinze dias a seis meses depois da data aprazada. Alguns existem, para quem pode mesmo ultrapassar um ano e chegar até à eternidade. No entanto o ar sério com que proferem a frase e com que acrescentam uma hora concreta intriga-me profundamente: “Na próxima segunda-feira, sem falta às nove em ponto”. É como se eles próprios acreditassem naquilo que acabam de dizer ou como se eu acreditasse e fizesse o mais pequeno dos esforços para ficar em casa nessa data e hora. Não faço. Limito-me apenas no dia seguinte a ligar para saber a razão de não ter aparecido. Invariavelmente oiço que tem muito trabalho em mãos, que tentou avisar mas não foi possível e alguns não têm qualquer problema em “matar” alguém da família, sobretudo as sogras; Sim sogras, conheço um a quem já faleceram pelo menos quatro sogras e sempre na altura em que eu deveria estar à sua espera em casa. Coitada daquela família, devem ter por mim um ódio de morte.
-Eu, pela parte que me diz respeito, não tenho absolutamente nada que fazer; Sou um inútil ou um felizardo que pode dispor das manhãs sempre que quer para esperar um profissional de elevado gabarito, palavra honrada e extremamente ocupado que não vem nem avisa. “Mas fica já combinado, na próxima segunda-feira sem falta às nove em ponto”.
-Como disse antes não entendo porque o fazem. Se é mesmo muito o trabalho, se a minha encomenda é demasiado insignificante para esse barão da indústria, se não gostou de mim ou se pretende deixar-me “secar” até que o problema se me torne realmente insustentável, a empreitada mais cara e a necessidade dos seus serviços realmente absoluta. Aí terá a certeza que obtém a minha profunda e eterna gratidão, um pagamento maior e uma gratificação choruda. Se por acaso na altura em que o problema ficar resolvido já existir outro, eis que me dirá como um oráculo: “Está combinado, na próxima segunda-feira. Na próxima segunda-feira, sem falta às nove em ponto”.
Rui
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