terça-feira, janeiro 31, 2006

Coisas pequenas












-Ouve-se dizer: pensa em grande, deseja em grande, faz grande! Mas será realmente a grandiosidade a única coisa importante? E que espaço reservamos em nós para as pequenas coisas? Porquê, as coisas pequenas parecem tão ausentes do léxico popular, da moda e do nosso modo de pensar? Poderia alguma vez existir esta nossa vida, por vezes tão fastidiosa e tristonha, se não existissem pequenas coisas com as células e as bactérias? Recordo que é o ADN quem estabelece quem somos, como e como funcionamos à partida; Que o imenso universo é composto, todo ele, por uma imensidade de pequenos átomos, mantidos assim por outra imensidade de ligações e partículas sub atómicas.

-A natureza de toda a vida e tudo na vida, provém e pulula de ínfima pequenez. Toda a vastidão de ecossistemas assenta em incontáveis pequenos organismos e microorganismos sem os quais a vida não existiria no nosso planeta. Até a chuva que nos molha e nos nutre é composta por gotículas que se juntam em gotas para saciar a natureza com a sua dádiva de renovação. O sol que nos ilumina e nos acaricia, não é mais do partículas. Que seria uma rosa sem as suas pequenas pétalas? Perguntem a um pássaro acerca da pequenez das palhas e ramos com que faz o seu ninho.

-Que seria da humanidade sem as pequenas ideias, sem pequenas conquistas, pequenos gestos e sem os pequenos falhanços que conduziram à grande evolução? Imaginemo-nos sem a pequena partícula de chama, que saltou do encontro de duas pedras para nos dar o fogo.

-Têm sido sempre pequenos sonhos, aquilo que nos conduz às grandes realizações. Tem sido sempre a partir de coisas pequenas que esculpimos e reesculpimos o nosso mundo e a nossa cultura. Pequenos poemas que nos acendem a alma, constituídos por pequenas palavras compostas de pequenos signos gráficos.
-Toda a nossa vida, colapsaria se não tivéssemos pequenos momentos de felicidade. São eles o combustível necessário para que desenrolemos os dias, até ao dia seguinte. São coisas pequenas como ínfimos pontos que constituem o desenho, ora cinzento, ora colorido das nossas vidas, das nossas experiências, dos nossos amores, ódios, frustrações e alegrias. Tão inimitáveis e encantadores.

-Porque ansiamos então tanto pela grandeza? Porque não nos empenhamos apenas em cumprir os nossos papéis na vida para assim ajudarmos a redimir o mundo a nós mesmos?

-Neste preciso momento milhares, senão milhões de “pequenas pessoas”, lutam nas suas pequenas vidas para que tenhamos todos uma vida melhor: em laboratórios, em missões, em fábricas e em escolas por todo o mundo. A madre Teresa foi sempre uma “pessoa pequena”, em estatura, em fama e em influência politica ou outra. Mas não deixou de fazer mais do que muitas pessoas ditas grandes, pela humanidade.

-Sempre que vejo uma criança pequena, vejo os seus pequenos olhos ávidos de ver coisas novas, e as suas pequenas mãos, cheias de potencial para agarrarem o futuro.

-Essa é sem dúvida, a fantástica grandiosidade das pequenas coisas. Saibamos aprecia-la correctamente.

-Hoje aconteceu-me uma pequena coisa, que me deixou feliz.

Falei com a Ana!

Rui

sexta-feira, janeiro 27, 2006











-Parem a realidade imediatamente que eu quero sair aqui mesmo e já!
Matem a lógica que é fria e cruel e por isso merece morrer cruel e friamente.
Enforquem a probidade no ramo mais alto da arvore do vício.

-Jamais voltarei a introduzir no meu corpo algo que não tenha álcool, cafeína, ou açúcar, nem voltarei a comprar nada 100% natural ou Made in Nature.

-Ontem cheguei a casa num deplorável estado de sobriedade. Totalmente imerso na realidade, completamente capaz de pensar e doentiamente consciente.
Por isso, terminei ontem mesmo a minha relação, por comprovado fracasso, com medicamentos, dietas, caldos de galinha, horários e bom senso. Respeitei-os a todos durante muito tempo, e o que fizeram eles por mim? Que vantagem retirei alguma vez dessa relação? Dependi deles, tal como sabia que a minha vida dependia de mim; E para quê?

-“Beber a tragos largos a solidão dos dias engarrafada nas noites frias, nas noites em que se sorve a alternativa à embriaguez de um copo cheio de tristeza”

Yur Adelev

Rui

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Favores & Companhia Ilimitada










-
Detesto quando alguém me liga para pedir um favor e não me diz logo o que pretende: “Olha estou a ligar-te para te pedir um favor, quando é que podes tomar um café para falarmos?” Porque não desembucham logo? Porque não me perguntam se quero beber um whisky ou uma cerveja? Porque não me perguntam se me apetece vê-los e ouvi-los?

-Depois há os favores que podem ser favores pequenos ou favores grandes. Sei sempre se o que me vão pedir é grande ou pequeno, pelo tempo que a pausa entre o anuncio da intenção de pedir e o e o pedido propriamente dito duram: “Bem o que te queria pedir era…(3 segundos) que me desses o numero de telefone de..”-favor pequeno. “Bem o que te queria pedir era…(8 segundos) que metesses uma cunha aquele teu amigo para…-favor grande. É isso mesmo, quanto maior a pausa maior o incómodo que se avizinha, seja para fazer o favor ou para encontrar um modo de recusar fazê-lo.
-Já me tem acontecido fazer favores a gente que depois me diz: “Pá… obrigado, mas já resolvi a coisa de outro modo”. Dá-me sempre vontade de lhes bater no mínimo, mas ainda não o fiz, limito-me a aguardar o próximo pedido para poder responder com um rotundo e sonante “NÃO”.

-Em Portugal a prática do favorzinho, do jeitinho e da cunhazita (sempre acompanhados pelo diminutivo), são tão tradicionais como o folar de Bragança, as tripas à moda do Porto, o presunto de Barrancos, as pataniscas de Lisboa, as açordas Alentejanas ou o queijo dos Açores. Quem os não pede ou não os pratica é ou estrangeiro ou um elemento deslocado e associal para os restantes indígenas.

Rui

Atneu e Cesareia












-Atneu era instalador de parabólicas; Fora na tropa que aprendera a ignorar as vertigens e o medo das alturas. Antes das parabólicas, montara antenas de tv, antenas de telemóveis, limpara chaminés, lavara janelas em arranha-céus e trabalhara no alto de postes de alta tensão. Desafiava a altitude e a gravidade todos os dias da sus vida mas nem a altitude nem a gravidade o sabiam e quando o descobriram, vingaram-se. Caiu, caiu em desgraça e caiu em peso juntamente com uma parabólica colectiva das mais caras do mercado. Aterrou num terraço de condomínio depois de furar um toldo novinho em folha e de esmagar uma mesa de piquenique e duas cadeiras de plástico. Não morreu mas partiu os dentes todos e entre eles o dente de ouro, que era o bem mais preciosos que possuía naquele tempo.

-Ao chegar a casa desdentado, com meia dúzia de pontos no lábio superior e outros tantos no inferior, descobriu que a esposa, Cesareia, fora ao minimercado da esquina e não voltara para casa. Fugira com um técnico de informática com quem namorara antes de conhecer Atneu.

-Atneu, triste por se ver abandonado, odontologicamente deprimido e defraudado de esperança, fez contas à vida. Passou em revista a sua conta bancária e acabou numa loja de artigos em segunda mão, à procura de uma dentadura que lhe servisse. A si e às suas magras poupanças.

-Tudo parecia correr, senão bem, pelo menos não pior do que de costume. Até que uma semana depois, pouco antes de adormecer, teve a sensação de que na penumbra do seu quarto ouvia chamar por si, baixinho e suavemente. Ficou imóvel, quase assustado sem respirar sequer, mas a voz continuava. Era uma voz carinhosa, que sussurrava frases ternurentas por entre risinhos. Depois… bem, depois sentiu que lhe davam mordiscadelas ternas no lóbulo da orelha esquerda, mordiscadelas pequenas, como beijos roubados. Imóvel, como se mantinha, olhou pelo canto do olho e com a pouca luz com que a lua-cheia lhe iluminava o quarto, viu que o copo onde colocara a sua dentadura cuidadosamente em agua, estava agora vazio. Teve então a certeza que possuía uma dentadura feminina.

-No dia seguinte, mastigou a comida toda do mesmo modo que mamara o seu primeiro leite materno. Não voltou a ousar colocar o objecto da sua afeição na boca.

-Passou a ansiar regressar a casa e à sua companhia mais e mais a cada dia que passava. Às conversas acerca de tudo e de nada e a tudo o que aprendiam um com o outro, mesmo quando se mantinham em silêncio.

-Pela primeira vez desde à muito, muito tempo Atneu sentia-se feliz.


Rui

segunda-feira, janeiro 23, 2006

ADIVINHOS












-Em tempos, uma médium viu-me o futuro nas folhas do meu chá e tal como a cigana que me lera a palma da mão, vaticinou-me que casaria cedo e que teria uma vida longa e feliz.
-Mais tarde o meu astrólogo, depois de consultar o professor Mustafa Kálimero, que me lançara os ossos, estudou a minha carta astral e prognosticou para mim uma vida de felicidade, saúde e muitos filhos, na conjuntura dos astros.
-Todos pareciam estar de acordo: o numerólogo, o pai-de-santo,o xamã, a vidente e a taróloga que tinha um programa na televisão. Seria sem duvida feliz aos amores, cheio de amigos, saúde, filhos e dinheiro e viveria muitos anos assim.

Morri Sábado a meio da tarde. Ainda algo novo, solteiro, sem filhos e doente. Não deixei dinheiro que chegasse para pagar o funeral; Apenas duas pessoas estiveram presentes e ninguém me chorou. Gastara o dinheiro todo a pagar falsos vislumbres do futuro e não tive tempo para fazer amizades.

Rui

domingo, janeiro 22, 2006

MODA









-Confesso que não gosto, detesto e na prática abomino, ter que comprar roupa.

-Não gosto que me perguntem que numero uso, ou ter que decifrar o que significam aquelas letras nas etiquetas: P, M, L, Xl, XXL; Durante algum tempo pensei que fosse numeração romana mas já me explicaram que afinal é só inglês. Não gosto das perguntas invasivas e dos elogios ocos das/os empregadas/os, das sugestões idiotas que me dão, que se seguisse me transformariam numa versão mais amaricada do Castelo-Branco; Seria possível? Irrita-me transportar aqueles saquinhos coloridos pela ruas a fazer publicidade a uma marca e ter tido que pagar para isso. Detesto etiquetas, botões, fechos de correr, bainhas, recibos para troca, talões, descontos, salas de provas, promoções e tudo o que tenho que aturar para comprar uma simples camisa ou um casaco. Fico cansado ao fim de um par de peúgas, então quando tenho que comprar outra roupa, encontro sempre algo que me faz pensar: se fosse mais novo, alto ,sexy isto ficar-me-ia bem; Mas quando chego a casa e experimento de novo a peça, concluo sempre que não sou novo, nem alto, nem sexy mas sim apenas um perfeito idiota mais leve umas dezenas de euros.

-Tenho esperança que um dia a moda acabe e penso sempre que a única coisa boa da revolução maoista na china, foi a uniformização. Talvez um dia seja como nos filmes de ficção científica, tudo de traje praticamente igual. Porque não umas jardineiras prateadas e botas verde-salsa para todos?

Rui

sábado, janeiro 21, 2006

Verdade e mentira









“Ele há mentiras enormes que parecem a mais cândida das verdades e verdades reais que podem parecer a mais deslavada das mentiras; Basta para isso que se cerrem os ouvidos aos factos, os olhos aos sentimentos e que o entendimento se refugie na dúvida”

Yur Adelev



Rui



quinta-feira, janeiro 19, 2006

República ???









-Tinha prometido a mim mesmo que não voltaria a falar nas eleições presidenciais, mas está-me a custar.

Custa-me ver um Dr. Mário Soares a fazer jus ao nome do seu boneco na contra-informação: a dar-se “só ares” de grande combatente da liberdade e único português com capacidade real de ser presidente, achincalhando todos os outros candidatos para lá do aceitável ainda que na contenda politica de campanha.

Custa-me ver um Dr. Francisco Louça, sempre do alto do pedestal a que ele próprio se guindou, a exibir a verborreia de homem politicamente culto e único detentor da verdade; Censor encartado da restante da humanidade que não pense como ele diz que pensa, sempre em busca de assuntos novos de que possa fazer declarações inflamadas.

Custa-me ver um Sr. Jerónimo de Sousa, a fazer uma campanha de charme ao fiel eleitorado comunista, para que se mantenha fiel e a repetir uma cassete que embora de imagem renovada, em formato DVD, se encontra gasta e ao mesmo tempo tentando as simpatias da restante esquerda em geral.

Custa-me ver o Dr. Manuel Alegre, armado em vitima a explorar a receita da traição que lhe rendeu o arranque inicial e a insistir na técnica da auto-vitimização. Gritando roucamente contra tudo o que sempre defendeu e de onde, ao contrário do que diz, não se afastou mas sim, foi afastado.
Tantos anos de militância partidária deram-lhe para ver, apenas após ter sido desancado pelos do seu próprio partido, todos os males do mundo no sistema partidário em que até então sempre se manteve.

Restam-me por exclusão de partes dois candidatos.

O Professor Cavaco Silva, que considero ter sido um excelente primeiro-ministro e um homem de invulgar objectividade e de princípios. Tem sabido gerir a sua campanha sem ser soez nos ataques e pautou-se sempre pela educação e pela explanação das suas ideias. Censuro-lhe no entanto a premeditação recente, a falta de lealdade e o respeito que um politico deve ter sempre presente pelos que o apoiaram.

O Dr. Garcia Pereira, candidato quase inesperado que tem feito uma campanha incomparavelmente menor que todos os outros por escassez de meios mas que tem sabido usar a coerência de ideias e a mais pura lógica argumentativa mantendo-se afastado de falsas polémicas e do insulto daninho. Conheço-lhe no entanto as circunstancias de vida e essas são manifestamente incompatíveis com o que prega.

Confesso que não sei o que farei, mas farei com certeza alguma coisa no Domingo. Não coloco sequer a hipótese de não votar, nunca o fiz apesar de discordar do sistema e do regime, mas isso são as minhas ideias e exijo para elas o respeito que tenho pelas dos outros.
Talvez vote em branco, talvez volte aqui a falar de politica mas é In-Provavel.

Que o Povo decida, que eu saberei respeitar a sua decisão. Assim o saibamos todos.

Rui

segunda-feira, janeiro 16, 2006

SANGUE





-Tendo nos últimos dias recebido vários emails solicitando a dação de diversos tipos de sangue venho desaconselhar a difusão deste tipo de emails, dado que o Instituto Português de Sangue já por várias vezes tem salientado o seguinte:

-O INS possui a todo o tempo reservas de sangue suficientes para este tipo de situações e até para outras de gravidade e ocorrência elevada.

-Não existe nenhum tipo de sangue "raríssimo", apenas menos usual e as suas necessidades encontram-se supridas; caso tal não ocorresse o INS tem à sua disposição um banco de dados que lhe permitiria com celeridade contactar dadores comprovados de qualquer tipo sanguíneo e obter o referido sangue sem necessidade de apelos públicos.

-O INS tem ao seu alcance meios próprios que não hesitaria usar para pedir ao grande público a resolução urgente de um problema semelhante.

-Este tipo de apelos são falsos, mal intencionados e apenas se destinam à obtenção de endereços de E-mail para fins comerciais, vulgo SPAM (correio não solicitado)

No entanto, e como o sangue é um bem escasso, todos os voluntários podem fazer a sua dádiva no IPS. Nunca é demais.

domingo, janeiro 15, 2006

Manual de instruções












-São coisas engraçadas os manuais de instruções que por vezes nos chegam a casa juntamente com algo que compramos e que teremos de montar ou de fazer funcionar correctamente.
-Regra geral, quando neles consigo descobrir a língua de Camões, deparo com palavras como: “conetar”, “abrazivo”, “detregente” e expressões como “efetuar a ligação da parte A32 à parte B12” ou “o tubo em direção ao lado direito do orifício inferior em baixo não deve permanecer aberto (posição A e B) quando o aparelho estiver ligado numa dessas posições”. Por outro lado não vislumbro o que será uma “tostadeira”, quando o que acabei de comprar foi uma torradeira.
-Pois é, muitas vezes os manuais de instruções não dizem nada daquilo que deveriam dizer; Outras vezes fazem-no com uma tão má linguagem que ficamos sem saber o que fazer e o que fazer no caso de não sabermos o que fazer. Não entendi ainda se é apenas em Portugal que isso acontece, se se trata apenas de más traduções ou de desconhecimento total da sua língua.

-Já cheguei mesmo a pensar que existe um qualquer convénio, em que consta que a empresa concorrente da que vende o produto, é quem faz o manual.

-Isto demonstra apenas o total desrespeito de algumas empresas e dos seus representantes em Portugal pelos seus clientes que neles confiaram ao adquirir um qualquer bem.

Rui

sexta-feira, janeiro 13, 2006













-Há anos atrás que desisti de discutir com idiotas é um esforço que tenho dado por bem empregue. Assim nem eles deixam de pertencer à espécie que tanto parecem prezar, nem eu corro o risco de me tornar num deles.

-Como dizia Miguel Unamuno: “Aos imbecis não há mais do que chamar-lhes imbecis cara a cara e seguir andando. Não há que lutar contra eles; porque se por um lado é perigoso alimentar-lhes o ego e a estupidez que em todos os tempos agita as multidões, por outro corremos o risco de cair no ressentimento que acaba por ser tão sectário e tão infiel à verdade como as heresias dominantes”.

-Para não me esquecer disto tenho feito um enorme esforço. Faço-o porque não me interessa lutar nem contra esquerdas ou direitas, ateus ou muçulmanos, nem contra judeus nem contra nazis mas apenas contra a mentira e contra a imbecilidade, que são uma e a mesma coisa.


Vem isto a propósito de uma discussão que não tive, acerca das campanhas de alguns candidatos à Presidência da Republica dos seus discursos e métodos, do que dizem e de como se comportam.

Rui

Frigorifico












-Tenho no meu frigorifico, um mundo inteiro de vazios interiores.
-Coisas sem açúcar, sem cafeína, sem calorias, sem gordura, sem sal, sem ilusão, sabor ou esperança.

Rui

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Profissionais e "biscateiros"










-Não entendo nem penso vir a entender o porquê de tanta gente inteligente acreditar quando um pedreiro, carpinteiro, electricista, pintor ou outro profissional de reparações em geral e afins, afirma: “Próxima segunda-feira, sem falta”.

-Toda a gente sabe que para esta estirpe de trabalhadores, a segunda-feira próxima significa um período variável que pode ir de quinze dias a seis meses depois da data aprazada. Alguns existem, para quem pode mesmo ultrapassar um ano e chegar até à eternidade. No entanto o ar sério com que proferem a frase e com que acrescentam uma hora concreta intriga-me profundamente: “Na próxima segunda-feira, sem falta às nove em ponto”. É como se eles próprios acreditassem naquilo que acabam de dizer ou como se eu acreditasse e fizesse o mais pequeno dos esforços para ficar em casa nessa data e hora. Não faço. Limito-me apenas no dia seguinte a ligar para saber a razão de não ter aparecido. Invariavelmente oiço que tem muito trabalho em mãos, que tentou avisar mas não foi possível e alguns não têm qualquer problema em “matar” alguém da família, sobretudo as sogras; Sim sogras, conheço um a quem já faleceram pelo menos quatro sogras e sempre na altura em que eu deveria estar à sua espera em casa. Coitada daquela família, devem ter por mim um ódio de morte.

-Eu, pela parte que me diz respeito, não tenho absolutamente nada que fazer; Sou um inútil ou um felizardo que pode dispor das manhãs sempre que quer para esperar um profissional de elevado gabarito, palavra honrada e extremamente ocupado que não vem nem avisa. “Mas fica já combinado, na próxima segunda-feira sem falta às nove em ponto”.

-Como disse antes não entendo porque o fazem. Se é mesmo muito o trabalho, se a minha encomenda é demasiado insignificante para esse barão da indústria, se não gostou de mim ou se pretende deixar-me “secar” até que o problema se me torne realmente insustentável, a empreitada mais cara e a necessidade dos seus serviços realmente absoluta. Aí terá a certeza que obtém a minha profunda e eterna gratidão, um pagamento maior e uma gratificação choruda. Se por acaso na altura em que o problema ficar resolvido já existir outro, eis que me dirá como um oráculo: “Está combinado, na próxima segunda-feira. Na próxima segunda-feira, sem falta às nove em ponto”.

-Sei que existem excepções mas são In-provaveis e que um dia falarei delas, talvez… na próxima segunda-feira, sem falta às nove em ponto.

Rui

terça-feira, janeiro 10, 2006

O Cisne aprende a nadar


Imagem adaptada de uma de origem, para mim, desconhecida.








-A natação não é como outros desportos algo natural para toda a gente; Correr, marchar ou pedalar são actividades que facilmente se dominam, uma vez que são naturais no ser humano tem a ver com o equilíbrio que nos é natural enquanto espécie.

Na natação é necessária grande coordenação de movimentos e vontade de aprender a conquistar o mundo da água.

-Nadar, é feito na posição horizontal que para muita gente não é uma posição natural para exercer qualquer tipo de esforço coordenado. (nada de bocas!)

-Os iniciados tendem a ficar algo desorientados e a sentir medo de cair quando tal não acontece; Sempre recomendei que se imaginassem sobre um colchão suave e confortável. Ainda nesta analogia, recordemos que quando nos preparamos para adormecer, o nosso corpo deve estar relaxado e os músculos soltos. É precisamente isto que devemos sentir para que possamos flutuar e a partir daqui iniciar o processo de habituação ao meio aquático.

-Mas o maior inimigo de todos é o medo, desenvolvido pouco após o nascimento é ele que nos faz actuar receosamente num meio que ainda não dominamos. Mas convém não esquecer que a água é nossa amiga e que muitos antes de nós, aprenderam a dominar o processo da natação.

-E nós já aprendemos tanta coisa nesta vida que antes nos assustava e que agora dominamos na perfeição. Lembrem-se de como aprenderam a andar.

Nota: A aprendizagem da natação deve ser sempre acompanhada por alguém com experiência comprovada de ensino e não dispensa em nenhuma circunstância a rigorosa observância de todas as normas de segurança. Nadar é o domínio de uma técnica e não do meio onde essa técnica de locomoção é praticada. Nunca se deve confiar na perícia arriscando a própria vida e colocando as de outros em perigo por isso.

Rui

Diálogos IV












-O que achas que é mais importante para se ser feliz?

-Profundo conhecimento da natureza e do comportamento social humano?

-Não!

-Capacidade de análise psicológica dos outros?

-Não!

-Hummm… Espírito aberto? Ter muitos amigos? Grande experiencia de relacionamento? Ser rico? Ter a mulher ideal? Gostar daquilo que se faz? Ter saúde? Ser céptico? Ter uma fé? Ser paciente? Provir de uma boa família?

-Não!

-Desisto. O que é?

-Sorte!


Rui

segunda-feira, janeiro 09, 2006

irRItante











-Não é sempre… nem todas as manhãs acordo irritado com o mundo e com tudo (excepto as minhas gatas), que se me depara nos primeiros vinte minutos do dia despertado. Por vezes até a minha inépcia me irrita: o tropeçar nos chinelos ao lado da cama, o corte ao barbear, o entornar do café, as coisas que não me aparecem onde as procuro e toda uma longa lista de imbecilidades que sou mais do que capaz de cometer, antes ainda de sair para a rua. Irritam-me as notícias na rádio acerca do trânsito, porque hão-de ter a mania de as dar se as repetem diariamente? Será por serem outros automóveis e não os do dia anterior, que lá estão nos engarrafamentos?

-Irrita-me de sobremaneira receber telefonemas logo pela manhã acerca de assuntos que não possuem nem urgência nem importância suficiente para gastar calorias a carregar nas teclas. Havia uma única excepção. Aí sim, era um prazer acordar e olhar o nome de quem me telefonava, falar um minuto, ou dois e levantava-me como se o mundo fosse só céu azul e sol prazenteiro. Mas até isso abandonou as minhas “madrugações”.

-Como disse isto não me acontece TODAS as manhãs, mas quase e nas poucas em que a má disposição não se manifesta imediatamente, é sempre uma questão de tempo até que surja. Nos dias chuvosos ou “morrinhentos”, a situação ainda se agrava mais. Por isso, faço daqui um apelo: Não se cruzem comigo antes de passar uma hora do meu despertar; Não me falem e se o fizerem por mera boa educação, que não seja mais do que um bom dia atirado de longe que eu responder-vos-ei.

-Já me disseram que talvez sofra de um qualquer estado depressivo, provocado pela falta de luminosidade e que deveria fazer algo como fototerapia. Só me faltava essa…, talvez faça, mas...é In-Provavel.

Rui


sábado, janeiro 07, 2006

Diálogos III












-O Amor vence tudo!

-O Amor vai à guerra?

-O Amor está em todo o lado!

-Aqui também?

-Claro!

-Onde? Não o vejo?

-Ora… lá estás tu. Não tens um ossinho romântico?

-Não. Tenho espinhas românticas que me picam por dentro!


Rui

terça-feira, janeiro 03, 2006

Proibir


-

-O recente debate nacional, aberto com a proibição de fumar em espaços cobertos em Espanha, veio de novo relançar a polémica acerca do tabaco e do proibicionismo.
-Como já se sabia, havendo força de vontade e não havendo cigarros é fácil deixar de fumar mas como não há fumo sem fogo, sempre quero ver como é que o governo vai descalçar a bota de restringir o consumo de tabaco e perder os largos milhões que os fumadores lhe entregam mensalmente em impostos tão ridículos como muitos outros que andam por aí.

-Se por acaso se proibisse o consumo de tabaco e já agora, o de álcool, desapareceriam as tosses e escarradelas e as borracheiras e pifos. Consequentemente, assim aliviados, os portugueses veriam as suas despesas diminuir e subir em flecha o nível de vida.
-Depois, poderia o Governo nacional restringir e mesmo proibir, o consumo de carne. Inicialmente, haveriam de existir protestos de produtores, talhantes, restaurantes e outros mal intencionados que não entendem que tudo seria em nome da boa saúde de todos. Mas logo diríamos: “Ainda me lembro quando andava “agarrado” à carne, coisas de jovem, mas agora estou “limpinho”!
-Com estas medidas, os portugueses finalmente aproximar-se-iam dos restantes países europeus.
-Era então a altura certa para atacar de frente e corajosamente, esse hábito que temos todos de consumir peixe, que como se sabe possui mercúrio, chumbo e outras várias substâncias nocivas. No primeiro ano apenas se comeria peixe no natal e noutras três ou quatro ocasiões definidas superiormente. Seria um processo lento mas eficaz, até que ninguém corresse já o risco de ficar com uma espinha entalada.
-Assim, libertos de mais uma praga, o povo começaria a estar com as finanças equilibradas e o risco de endividamento familiar com certeza desapareceria. Mas não basta, haveria que proibir outros terríveis vícios de que esta sociedade padece. Os transportes por exemplo. É sabido o quanto são poluentes e mortais em crimes de trânsito. Seriam proibidos todo o tipo de transportes públicos ou privados. Andar a pé reduziria ainda mais o risco de doenças cardíacas, para além de ser um excelente modo de poupar combustíveis e fazer baixar os índices de poluição. Aí, o nível de vida dos portugueses atingiria um patamar nunca alcançado. Estaríamos a par da Polónia, de Malta e quem sabe até mesmo da Grécia; sobretudo depois da proibição absoluta desses produtos nocivos que são os lacticínios.
-Devido a estas medidas de protecção da saúde e à consequente economia de meios e redução de despesas, Portugal poderia liderar o processo de construção da União Europeia.

-Depois tudo viria por acréscimo e de uma forma natural: o cinema, teatro, a música, a pêra rocha, o agrião – tudo pequenos vícios que lesam a saúde e se perdem facilmente, como se viu no caso do tabaco. E o problema da habitação também se resolve se demolirmos as casas e vivermos em comunhão absoluta com a natureza.

-Tudo é uma questão de rigor e força de vontade. Se todos colaborarmos o ordenado chega.

Em memória de PcM.

Rui

(este texto não pretende expressar com exactidão o meu pensamento acerca de qualquer assunto nele mencinado)

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Anos








-A Caminhada de 2005 chegou ao fim.
-O ano anterior disse adeus e ocupou discretamente o seu lugar na eternidade e nos nossos corações. Para outros, foi com suspiros de alívio que o viram partir e com redobradas e repetidas esperanças… outra vez.
-Despediram-se dele com foguetes, festas, garrafas abertas e gritinhos por entre passas e beijos, tal como farão no próximo ano, deste que agora entrou.
-É assim todos os anos, depois o cenário artificial desfaz-se em dias seguidos; Ás alegrias sucedem-se outras alegrias e tristezas. Os aplausos e desejos esquecem-se, afogados na continuidade da vida. Na ressaca do quotidiano, onde as cores perdem brilho e as máscaras se retiram.
-Volta o trabalho e no dia 31 do primeiro mês, já ninguém recorda os doze ridículos e egoístas desejos de há um mês à meia-noite. Retorna a crueldade humana exibida em horário nobre para consumo rápido e fácil esquecimento. Retornam os silêncios cúmplices perante os olhares desesperados, os discursos vazios para calar as culpas solteiras, o sofrimento e de novo a esperança.

-Para o horóscopo chinês em 29 de Janeiro inicia-se o ano do cão, vamos a ver se o mundo não se comporta como um, raivoso de novo. Mas é In-Provavel!


Rui (revisão : Ana)

2006