terça-feira, maio 30, 2006

FUTEBOL E AMOR (Reedição Acrescentada)

























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O Primeiro texto é uma reedição de um aqui colocado a 15/10 de 2006; O segundo é de um amigo que se assina Yur Adelev.
Achei que ambos se completariam.

O mundo é redondo e o futebol é a maior prova disso.

-O futebol é uma repetição de todos os reflexos sociais. Tem regras, restrições, perícias, penalidades, artigos, relevância e impertinência. Mas sobretudo tem o acaso. Tem superstição, religião e paixão…muita paixão. Tem corpo e por tudo isto tem alma.

-O futebol é violento como a vida e tem abusos como ela. Duro como a existência e sóbrio como a maior das bebedeiras.

-É diferente nas semelhanças com a religião e semelhante a ela nas diferenças. Ou se crê ou não, ou se ama ou se odeia; Tudo o resto são excepções raras e tudo é permitido em simultâneo. Nele as crises de fé são rápidas, duram o espaço de uma jornada ou o “defeso” de uma época.

-Ao contrário do que se diz por aí, não se joga pensando, joga-se apenas com a alma e com o corpo todo ainda que não seja permitido, depois pensa-se. Isto é: primeiro chuta-se como e quando se pode na altura e à posteriori explica-se o que se fez, se pode explicar ou inventam-se razões ou então não se explica sequer.

-O futebol não é bonito, é lindo se se gosta dele e se a equipa ganha ou trágico se a equipa perde. Arranca euforias e horrores durante o mesmo minuto. Mata-se por ele (tristemente) e morre-se por ele mas sobretudo sofre-se por ele. É catártico e sublime ou aberrante e desprezível.

-Ninguém gosta de futebol apenas. Futebol não se conversa, discute-se. Escreve-se, descreve-se, analisa-se, vê-se e revê-se vezes sem fim em todos os ângulos inversos e reversos e nunca se apura nada.

-Não é desporto, é tudo para quem tem pouco ou nada e algo mais para quem já tem tudo.

-É belo ouvir de alguém que o detesta e não o entende por opção própria, que deseja que a nossa equipa vença, apenas por nós.

-È uma bela declaração de amor.


Rui

Se fosse eu o seleccionador fazia de ti a minha selecção.
Jogaríamos em todos os campos 9000 minutos regulamentares,
sem outra falta que não fosse a que me fazes
e haveriam prolongamentos dos dias mais felizes.
Só tu e eu num estádio cheio de alma,
correríamos de mão dada atrás da bola que é o mundo,
e os bons encontros durariam para sempre.
Os cartões, teriam todas as côres
e neles, desenhos de gerbéras e outras flores de que gostes.
A relva teria grilos, que cantariam de noite e de dia,
e as únicas fintas seriam aquelas que a vida nos faria.
Nas balizas, as redes estariam penduradas entre os postes,
para que descansássemos nelas das quedas dos dias maus.
Á noite, dos holofotes do estádio brilharia a lua cheia.
E o público, calado, aplaudiria a vitória alheia.


Yur Adelev

sexta-feira, maio 26, 2006

Narciso?










-Quando passei a fazer parte da rotina diária da minha família, pensaram chamar-me Marcelo, mas ou porque já na altura existia um, ou por terem mudado de ideias acabaram por me nomear Rui.

Ruis existem em qualquer lugar, andam por todo o lado estão em todo o lado. São muitos, são diferentes; Têm alturas, profissões, pensamentos e gostos diferentes, mas todos têm uma coisa em comum: todos se chamam Rui.
-Tenho praticamente a certeza de que não existe uma cidade, vila ou aldeia, escola, escritório ou oficina onde não viva ou trabalhe alguém chamado Rui. Ao contrário do que acontece com os Josés, com os Manueis, com os Joãos e com os Pedros, os Ruis são apenas portugueses; Não conheço outra língua em que o nome exista com esta grafia. Em língua inglesa existe o Ray, e na francesa o Ruy, mas uma e outra apenas se aproximam em número de letras e no som inicial, o que são vagas e longínquas semelhanças.
-Sei também que em russo existe uma palavra cuja grafia desconheço mas cujo som equivale ao do nome Rui. O significado não o escrevo, por se tratar do mais forte “palavrão” português e também russo,... aquele que nas terras mais a norte, é usado como se de um ponto final se tratasse.
-No entanto sei que existem Marias Rui, o que não faz delas outra coisa que não Ruis femininos.
-Não faço qualquer ideia, nem sequer aproximada de quantos Ruis existem, nem qual a sua distribuição geográfica; A única vez que tive a ideia de saber qual a sua densidade, fui a uma mesa de café com cinco amigos, dos quais quatro se chamam Rui. Assim, por conclusão ficou-me que ali, cinco em cada seis portugueses se chamavam Rui. Mas nós abemos o que as estatísticas significam quando são assim elaboradas.
-Por vezes surgem-me ideias de criar um lobby, ou um clube apenas, de e com pessoas chamadas Rui. Seria apenas mais um lobby ou clube?
-Será que o nome que usamos toda uma vida, tem algo que ver como o modo como somos ou com tudo aquilo que nos acontece?

-Quanto à sua origem conheço esta versão:

-Rui é a forma reduzida do nome Rodrigo [que vem do germânico hrod, «glorioso» "roda", glória, e "ric", poderoso]. A sua forma antiga era "Roi" ou "Roy".

In Nomes Próprios, de Ana Belo (Arteplural, Lisboa) e Dicionário de Nomes Próprios, de Orlando Neves (Circulo de Leitores).


Nota: Apesar de a ilustração ser a imagem de um Narciso, a ideia é apenas contrariar o que quer que alguém possa pensar acerca do tema e conteúdo deste post! Além de que o narciso é uma bela flor.

Rui

quarta-feira, maio 24, 2006

segunda-feira, maio 22, 2006

PUZZLES
















Tenho 42 anos. Não sou nem velho nem novo sou ambos ao mesmo tempo e regra geral sou novo demais e demasiado velho quando quero ser o contrário.
Quarenta e dois anos é diferente de ter quarenta e um ou quarenta e três, embora seja sempre eu independentemente da idade que tiver. Mas por vezes não sei bem o que é exactamente isso de ser eu.
Envelhecer é das poucas certezas que possuo. De todas as realidades é das mais democráticas e inexoráveis.
Antigamente, pensava que quando atingisse esta zona da vida em que estou ,seria mais capaz, mais envolvido na vida, mais sabedor e experiente. Mas tudo o que até agora aprendi resume-se a saber que não aprendi nem o suficiente nem aquilo que queria aprender e que está muito bem assim.
A vida não é um puzzle à espera de ser construído peça a peça mas sim as cores com que o puzzle se pinta. Não será um puzzle coloridíssimo mas é colorido e vivo; Não é preciso nem exacto mas é perfeito.
Há na vida pelo menos uma justeza, a que se revela naqueles de quem gostamos, nos momentos felizes, na beleza e na passagem das estações. Gosto da vida mas não me entendam erradamente. O mundo está cheio de desgraças e de lágrimas e o meu mundo também. Limito-me a tentar acreditar apenas, que algo melhor há-de existir um dia e que me irá surpreender como antes já aconteceu, mas por outro lado, duvido prufundamente e até acho totalmente in-provavel

Não sei bem porque pensei nisto. Talvez apenas porque há coisas em que me é muito doloroso pensar.

Rui

quinta-feira, maio 18, 2006

COW PRIDE / COW PARADE ?




















Confesso que existem coisas cuja aparente inutilidade me diverte!

Rui

quarta-feira, maio 17, 2006

À espera de Godot












-Ontem, veio-me parar ás mãos um livro de Samuel Beckett com uma peça de que gosto e que já varias vezes vi: “À espera de Godot”. Ao folheá-lo, ocorreu-me esta questão: “como seria a mesma peça, se Beckett vivesse na era do telemóvel?”

Eis o que penso ser a resposta:


Primeiro Acto:

Estragon: Quem era?
Vladimir: Godot. Ele não pode vir, e que tal se fossemos a um restaurante chinês?
Estragon: Boa idea.

Vladimir & Estragon saem do palco pela esquerda.

Fim


Rui

terça-feira, maio 16, 2006

FOCAR









É preciso reviver o sonho e a certeza de que tudo vai mudar.
É necessário abrir os olhos e perceber
que as coisas boas estão dentro de nós,
onde os sentimentos não precisam de
motivos nem os desejos de razão.
(É preciso saber focar a verdade que existe
nos sentimentos reais e belos que temos
ignorar os medos e receios e agarrar a vida.)*
O importante é aproveitar o momento
e apreender sua duração,
pois a vida está nos olhos
de quem sabe ver.


(Gabriel Garcia Márques)

* Paragrafo introduzido.

Rui


domingo, maio 14, 2006

É O MARKETING ESTÚPIDOS!












-Todos os caminhos vão dar a algures. Das mais diversas paragens, das mais longínquas proveniências, dos mais recônditos lugares, usando os mais variados meios de transporte, todos se dirigem ao lugar marcado.
-Tudo leva a crer que o acontecimento irá concitar a atenção dos mais destacados especialistas, dos mais atentos observadores, comentadores e de todos os órgãos de informação.
-Parece chegado finalmente o grande momento.
-A população concentrada no exterior, mantêm um silêncio expectante enquanto lança confeti e outros impropérios.
-Os convidados continuam a chegara bom ritmo, uns aos pares, outros aos impares; Uns envergando traje de cerimonia e outros bem vestidos.

-A conferência de imprensa tão amplamente anunciada e que tanta expectativa tem vindo a criar parece estar prestes a ter inicio. Um a um, entram os membros do governo por ordem de importância: o primeiro-ministro à frente, depois os ministros, a seguir os secretários de estado, os secretários de estado, os sub-secretários de estado, os chefes de gabinete, os assessores, os sobrinhos, os afilhados, os amigos e por fim o pessoal de secretariado. Todos ocuparam os seus lugares, ladeando o chefe do governo. Todos os olhares se concentram agora no primeiro-ministro que retira do bolso as notas da sua importante comunicação. Faz-se total silêncio, vamos ouvir.

-Portugueses, minhas senhoras, meus senhores, senhores ministros e restantes membros do governo, senhores jornalistas, distinto público.
-O anúncio que aqui me traz e simples e resumi-lo-ei como é meu habito. É o seguinte:
-É o marketing governamental, estúpidos!

Rui

sábado, maio 13, 2006

Comboio In-Provavel










-Quando subires para o comboio, escolhe um lugar no centro da carruagem e junto à janela. São esses os lugares onde se é menos incomodado.
-Sim senhor! – Respondeu o rapaz baixando a cabeça respeitosamente.
-Quando o comboio começar a andar, pode aparecer alguém a tentar vender-te alguma coisa. Não compres nada, não lhe ligues, não respondas sequer. De certeza que é alguém prontinho para te burlar, um vigarista.
-Sim senhor, não lhe ligo sequer!
-Se alguém te oferecer um cigarro, não aceites; Os cigarros têm droga. Entendeste?
-Sim senhor, entendi!
-Se te aparecer alguma rapariga nova e bonita a querer meter conversa contigo, abafa o teu primeiro impulso e sem seres mal-educado, corta logo ali o diálogo. Essa rapariga há-de ser uma aventureira.
-Uma quê?
-Uma desavergonhada! Ouviste?
-Sim senhor, ouvi e entendi! Não lhe darei troco à conversa!
-Se por acaso alguém te convidar para jogares cartas, não jogues; Os comboios estão cheios de vigaristas que te fazem perder tudo o que tens e nem sequer saberás como.
-Sim senhor! Não me hei-de esquecer.

-O jovem subiu para o comboio e entrando na carruagem, atravessou-a até ao fundo, colocou os sacos no estrado sobre os bancos e sentou-se num lugar junto à coxia.
-Quando o comboio se pôs em movimento, entrou um homem enorme e de aspecto simpático que vendia artesanato africano. Chamou-o com um gesto e escolheu um pequeno elefante negro com as presas em marfim.
-Retirou do bolso do casaco um maço de cigarros e acendeu um, devagar. Fumo-o com evidente prazer, muito embora soubesse que ali não era permitido fumar. Foi então que viu sentada quase no centro da carruagem uma rapariga que lia. Levantou-se, dirigiu-se até ela e pedindo licença para se sentar ofereceu-lhe o pequeno elefante. Pouco tempo depois falavam animadamente como se se tivessem conhecido muito tempo antes. Jogaram às cartas e riram-se durante quase toda a viagem.

-Dois anos mais tarde, casaram e convidaram os avós de ambos, que vieram de comboio ao casamento.


Rui

sexta-feira, maio 12, 2006

EMBIRRAÇÕES IV




















CALIMÉRO II
-Niguém gosta de mim...
-Fui vítima de injustiça...
-Havia um
complot...

(Entrevista de Manuel Maria Carrilho à RTP 1, dia 12 de Maio de 2006)


quarta-feira, maio 10, 2006

LIVRA... RIA!







-
Confesso que tenho uma secreta paixão por livrarias. E embora a não a exerça com a regularidade que gostaria, ela está em mim e eu nela sempre que a ambos é possível estarmos juntos.
-Quando estou numa livraria a desfolhar mil livros que não tenciono comprar tenho, nesses momentos únicos, a impressão que ainda resta no mundo alguém que sabe pensar.
-Gosto das cores das lombadas dispostas anarquicamente, e bem dispostas habitualmente. Gosto do cheiro a papel e a tinta e sobretudo gosto do quase solene silêncio que lá existe; Este, não é o silêncio mal disposto, obrigatório, pesado e opressivo das bibliotecas, mas um silêncio respeitoso e auto imposto, como o som da concentração do atleta antes de iniciar a corrida contra a fasquia que deveria ultrapassar.
-Adoro percorrer as secções temáticas e já me tem acontecido encontrar na secção de arte, excelentes obras acerca de reciclagem de resíduos sólidos ou na de auto-biografias, fantásticas obras de ficção. Mas sobretudo sempre me impressionou a divisão da totalidade dos livros em dois grandes grupos: ficção e não ficção. É como se me quisessem dizer que uns são verdadeiros e outros apenas uma data de patranhas que no entanto eu devo ler, pagando para isso a pequena fortuna que os livros por cá vão custando.

-Ainda recordo com alguma saudável saudade, outro tempo não muito distante, em que era possível fazer perguntas aos empregados das livrarias e obter respostas concretas, rápidas e acertadas sem que tivessem de consultar com ar sério um terminal de computador. Nessas alturas, franzem o sobrolho como se soubessem a resposta e apenas não se recordassem bem dela, consultam a base de dados e concluem quase invariavelmente, que o autor cujo livro nós procuramos não existe, ou que naquela livraria não existe nada, que ele a ter existido, tivesse escrito; O que parece dar no mesmo a julgar pela expressão de estranheza e desdém com que nos olha. È mais ou menos assim: “Hum…, desculpe mas OZ, só se for O feiticeiro de OZ. Esse tal Amos Oz não existe!”. Está encerrada a questão, e assim Amos Oz (pseudónimo de Amos Klausner), um dos mais importantes e mais traduzidos autores em língua hebraica, deixa pura e simplesmente de existir num ápice, desaparecendo com ele toda a sua obra.

Rui

segunda-feira, maio 08, 2006

Breve historia do Erotismo















-Os povos da antiguidade não conheciam a diferença entre erotismo e pornografia e não se importavam nada com o facto.
-Para este texto deparei-me com grandes dificuldades, pois a escassez de obras de consulta é enorme já que a “Penthouse” não era vendida em Roma, a “Playboy” não era editada no Egipto, a “Lui” não se publicava na Grécia e os persas apenas liam a “Nova Gente”. No entanto, a conclusão mais evidente a que cheguei foi a de que estes povos apreciavam tudo aquilo que neste capitulo a humanidade actual aprecia sem qualquer distinção ou preocupação de distinguir entre: sexo, pornografia e erotismo.

Algumas questões prementes:
-O nariz de Cleópatra, era sexy, erótico, ou pornográfico?
-Os Hunos, combatiam semi-nus por facilitismo, naturismo ou exibicionismo?
-Os gregos, acreditavam mesmo na mitologia, ou criavam as lendas para disfarçar algumas facadazinhas que davam e atirar a culpa para os deuses e deusas?
-As múmias, exerceriam algum grau de atracção sexual sobre os egípcios?
-As pirâmides eram símbolos fálicos?
-Na Pérsia, a barba cerrada em cachinhos tinha algum poder de atracção?

-Todos sabemos que os gregos eram uns tipos liberais à brava; Eros era grego, Afrodite também, Apolo e aqueles sacanas que nos levaram o Campeonato Europeu de Futebol também eram. Em Atenas periodicamente, jovens de todos os sexos, pelo menos de quatro deles, juntavam-se para a prática de jogos que fariam corar Zeus se ele tivesse realmente existido.
-Os romanos, herdaram dos gregos alguma da sua liberalidade e dos lusitanos a restante que lhes haveria de permitir que inventassem as orgias de todos os dias e os semanais bacanais.
-Os egípcios não nos deixaram grandes testemunhos. Eram um povo estranho que tinha má caligrafia e andava sempre de lado, mas apesar de tudo sabemos hoje que não existe qualquer registo de que tenham existido múmias semi-nuas.
-Os hunos, sabemos terem sido um povo muito fértil pois as hunas não tinham filhos mas sim hordas deles, que arrasavam tudo por onde passavam.

-Talvez aqui volte ao assunto para falar da idade média, que como todos sabem, é a idade em que a humanidade ainda não tinha idade para fazer algumas coisas e já não tinha idade para fazer outras. Por isso e por não existir ainda electricidade, há quem lhe chame a idade das trevas, embora eu não concorde de modo algum, pois como já referi, os casais nem tinham luz para apagar.


Rui

quinta-feira, maio 04, 2006

terça-feira, maio 02, 2006