Quero esclarecer uma coisa muito importante: Escrever não é uma arte moribunda! Ser pago para escrever é uma arte pré-extinta.
Talvez fosse importante fazer-se uma análise, ainda que ligeirinha, do que levou a esta situação e do modo fácil de a ultrapassar, especialmente para aqueles que possuem em casa um arma de fogo, um forno a gás ou comprimidos variados em doses e cores.
Nos tempos em que escrever não era um assunto exclusivamente acerca de dinheiro, nos tempos de Camões e Gil Vicente que eram pagos em galinhas ou em moedas arcaicas que nem para comprar galinhas davam, a História era outra mas a coisa funcionava. Nos primórdios da Revolução Industrial tudo se tornou mais complicado e escrever tornou-se uma Arte. Camilo era um produtor literário de fundo, já que a necessidade a isso o obrigava. A arte da escrita era paga à palavra e as frases eram longas e tortuosas pois a sua brevidade significava menos pão na mesa e nem só de pão vive o “escrevinhador”. Nunca hei-de esquecer a descrição do escritório de Afonso da Maia com que Eça de Queiroz assusta, logo de inicio, o mais incauto leitor principiante na arte de ler os clássicos. Os brocados, os reposteiros e cortinados, os veludos, os estofos das cadeiras e cada mínimo detalhe enfadonho de cada recanto escôncio da divisão do “velho” Maia.
Nesse tempo era legítimo e normal consumir centenas de páginas, uma atrás de dezenas de outras porque as árvores abundavam e madeira para fazer papel não faltava.
Mais tarde, apareceram escritores como Hemingway que nunca dizia “estava a chover” mas apenas “chovia” para evitar o desperdiçar de palavras. Usavam-se poucas palavras mas cada uma delas, nesta época, significava uma “pipa” de dinheiro para o escritor o que lhe permitia assumir a atitude de bon-vivant, pessoa viajada e algo excêntrica. A escrita permanecia rentável sobretudo por falta de concorrência real e também porque o acto de ler era ainda o mais solitário dos prazeres pois a massificação da pornografia ainda não tinha acontecido.
Mesmo quando a pornografia começou a dar os primeiros passos, não constitui de imediato uma ameaça para os escritores; mantinha-se confinada a algumas publicações como a Playboy, a Penthouse ou a Luí que continham também longos artigos de autores famosos e eruditos acerca de assuntos como “Tocar clarinete” ou “Desarmamento nuclear”. Não creio que alguém alguma vez os tenha lido integralmente mas havia quem fosse pago para os escrever.
Depois foi o advento da Internet e tudo se alterou.
Quando a Net invadiu os lares a publicidade invadiu a rede. Os jornais começaram a cair uns atrás dos outros ou a diminuir de tamanho e espessura e o som doce do virar das páginas do jornal matutino foi substituído pelo surgir de imagens que piscam incessantemente e invadem os monitores dos PC’s caseiros. Mas o mais importante foi que a Internet vinha recheada com pornografia e a pornografia não instiga à arte da escrita. Aliás, para provar o meu ponto de vista fiz uma pesquisa rápida em busca de literatura ligada à pornografia que pudesse ser encontrada na Rede Global. O que de mais semelhante que encontrei foram os anúncios de “acompanhantes”, os de “troca de casais” e um E-Book intitulado “Katty Gosta dos Animais da Quinta”.
Sei o que podem estar a pensar: a Internet não é apenas pornografia e os escritores também devem ter beneficiado de algum modo com ela. Foi por pensar também assim que pesquisei no GOOGLE “ficar rico escrevendo” e encontrei centenas de locais disponíveis. Desde coisas tais como “Torne-se um Escritor Freelancer de Sucesso em Quatro Passos” a “Curso de Escrita Grátis” (http://in-provavel.blogspot.com/2008/11/curso-de-escrita-criativa-grtis.html).
Num outro site que prometia tornar-me milionário apenas escrevendo, acabei por me distrair com as dezenas de imagens de senhoras elegantes em poses eróticas envergando vestidos curtos, transparentes e decotados. Noutro local que garantia ensinar como se escrevem best-sellers, apenas havia links para coisas como “Jogos eróticos”; “Despedida de solteiros/as ao domicílio”, “Guia de sedução de lésbicas para homens”; “Serviços femininos para estrangeiros” e “Noivas Russas por catálogo”.
Apenas num blog encontrei algo que me acendeu alguma esperança. Um homem decidira fazer Crítica Literária por conta própria acerca dos livros que lia e que também ia escrevendo ele mesmo pequenos contos e poemas com enorme desvelo e entusiasmada esperança. Durante três anos, tudo não passou de um acto solitário pontuado por comentários de outras pessoas que encaravam essa sua actividade como mero passatempo. No início o homem tinha o sonho de ser descoberto por alguém que o publicasse e chegou mesmo a publicar-se pagando todas as despesas e recebendo em troca um “rombo financeiro” razoável. Mas no 4º ano de esforços parecia que finalmente se tinha tornado um profissional da escrita capaz de viver apenas dela.
Escrevia o seguinte:
“A partir de hoje vou dedicar-me a este blog a tempo inteiro. Na empresa onde trabalhava contrataram já alguém para o meu lugar!”
Fiquei contente por ele.
5 comentários:
:)))
Eu também. Aliás, com tanta gente por aí a publicar livros, acho que qualquer dia também experimento. Pode ser que me safe...
Num primeiro instante arriscaria dizer que a escrita nunca deveria estar dependente de dinheiro ou de lucros, mas, infelizmente, os tempos, a história provaram-nos o contrário.
A verdade é que a televisão e agora a internet levam-nos a ser menos exigentes na leitura e por consequência, os escritores são também menos ... como dizer? Interessantes?
Seja por causa das árvores, da extinção destas, do consumismo, da internet ou da pornografia, a verdade é que faz falta a leitura a todos nós, assim como faz falta a existencia de escritores ao nivel dos mencionados.
Gostei do tema e da forma pertinente como o apresentaste.
Bjs e boa semana
Bom,se para o ano,for para o desemprego,já sei ao que me vou dedicar :p
Já viu os prémios que a Aldeia arranjou para a Blogagem de Janeiro? Vá,um escritor ou amante de escrita pode tentar a sua sorte.Não ganha milhoes,mas pode sempre ganhar 1 noite ou mais na Serra da Estrela.Basta mandar 1 texto de 25 linhas e 1 foto para aminhaldeia@sapo.pt até dia 15.O tema é: as janeiras e o bolo-rei.
Jocas gordas
Lena
TRUZ,TRUZ...???
O pobre do homem foi corrido do "emprego" e APENAS por isso se iria "dedicar ao blog a tempo inteiro". Nunca publicaria nada deste lado do mundo!
Sarcasmo versus Ironia?
A negação da intenção?
OK! Sou mau e cínico!
Mas... ainda conservo uma costela realista!
Beijos & abraços!
Rui V.
Post Scriptum: Não sou nem tenho pretensões a ser "escrevinhador" como vejo muita gente a transformar as "escrivinhações bloguisticas", os "poemas", as pseudo-filosofias e os "Queridos Diários" em livro! Pode ser agradável ao Ego mas MUITO pouco prático em termos de algo que não seja um sonho mal sustentado!
No entanto, o "sonho comanda a vida"! Será?
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