Hoje houve abraços, beijos, cumprimentos e solenidades e no fim foguetório.
Foi de novo dia de encher o olho e de fartar o ego dos que admiram Reis, presidentes e chefes de governo que se passeiam nus pelas ruas.
Em Lisboa foi assinado com pompa e circunstancia o TRATADO DE LISBOA (o recente, o aparentemente definitivo) aquele que tinha que ser ainda que contra tudo e todos.
O povinho acorreu para tecer loas e arregalar os olhos à passagem das limusines, tal como fazia à passagem de El-Rei ou do anterior ditador de serviço, abanando frenéticas bandeirinhas e gritando vivas a Portugal em dia de comemorar a Independência.
Ao mesmo Portugal que lhes dava fome e analfabetismo temperados com ausência de liberdade.
Só que desta vez gritou-se “VIVA A EUROPA”
-Não, não sou anti Europeu, nem sequer sou anti-o-que-quer-que-seja. Este tratado, tal como o outro, assinado no mesmo local veio redespertar a esperança de um povo. Tal como outros anteriores, tal como Schengen, tal como a adesão ao Euro (€). No entanto, talvez apenas por coincidência, embora não acredite nelas, a cada tratado a nossa situação piora.
A culpa não é da Europa e sob o ponto de vista puramente politico, sou favorável a este tratado e não o era à anterior tentativa de Constituição Europeia, mas sou favorável a que seja referendado. Porquê? Por ser esse o único meio de reunir o consenso de que tal “acordo” reformista” necessita para que seja efectivamente credível e para que represente efectivamente os cidadãos europeus. No entanto, os partidos políticos de charneira, assustados com os anteriores “chumbos” da França e da Holanda à tentativa de “Constituição Europeia”, e com o chumbo da Irlanda já a este tratado procuram impô-lo como facto consumado.
-Existem muitas formas de dizer SIM à Europa. Pode ser-se europeísta discordando da forma e/ou do conteúdo desse pensamento único que nos querem impingir.
Pode ser-se europeísta pensando e discordando e isto apenas porque a Europa (tal como a penso) não é um Estado mas uma Federação de países com interesses comuns, com desavenças sanáveis e com capacidade de desempenhar um papel importante a nível mundial.
-Ao nosso actual governo não posso deixar de dizer que não é possível obter o reconhecimento popular da Europa, argumentando quase sempre em “Europês” cerrado que quem é contra si não é europeísta e que ser europeísta, é no fundo a solução de todos os males que nos afectam, por que essa é uma enorme e deslavada mentira.
-Hoje tentou dar-se uma imagem de “Carnaval Lisboeta”. Uma imagem de “princípio do futuro”, “fim de todos os males” e isto, não o esqueçamos, no mais atrasado de todos os países europeus; no pais onde a população mais sofre e talvez aquele que mais tem sofrido sempre com a sofreguidão dos governantes em se proclamarem Europeístas convictos e religiosamente praticantes.
-Eu, quero a minha Europa mais social, mais igualitária, mais assente em valores do que em cifras.
-Em Lisboa o povinho saiu à rua e olhou as carruagens engalanadas, o aparato da segurança e as bandeiras. Bateu palmas e deu vivas.
Renasceu-lhe alguma esperança e não viu que o rei ia semi-nu.
Depois… bem, depois regressou a sua casa, ao desemprego, à deseducação, à falta de meios para saúde, aos salários baixos e aos preços elevados.
Regressou enfim, ao país que ontem foi o mais falado no mundo, muito embora seja a pulga mais magra da cauda dessa Europa que tanto se celebrou.
Reposição e repostagem de post de 3 de Dezembro de 2007 aquando da assinatura do Tratado de Lisboa
2 comentários:
Aquilo é que foi ver «gosmas», todos a olhar para o próprio umbigo e a tratar estrategicamente da vidinha, porque isto de ter um cargo europeu não é tacho... é um caldeirão.
Não acompanhei a cerimónia toda (Deus me livrasse de tal suplicio!), mas não causava um certo dó ver o ar patétito de alguns dos presentes? A sensação que se tinha é que estavam todos a defender as suas vidinhas!
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