As crianças têm a imensa sorte de gozar de uma impunidade total dos seus actos, ainda que sejam uns sacaninhas horrorosos, mal-educados, vis e ruidosos serezinhos.
-Recordo uma ocasião em que depois de muito trabalho tido pelos pais para organizar uma festa natalícia de arromba, subiu ao palco uma menina para receber não sei o quê, que ao acercar-se do microfone exclamou: “Esta festa é chata”. Toda a gente lhe achou graça e houve uma risada geral, como se aquela atitude enfastiada, fosse a atitude que todos gostariam que os seus próprios rebentos tivessem tido. Se tivesse sido um adulto a tomar a mesma atitude o mínimo que pensariam dele é que se tratava de um imbecil mal-educado e inoportuno.
-Estas barbaridades infantis são tão aplaudidas, que quando as crianças crescem e se tornam políticos em campanha, tudo julgam ser-lhes permitido, até a mais descarada mentira e irrealista promessa.
-Os “pequenotes” têm impunidade para tudo, seja para um acto escatológico (fisiologia),
seja para a maior das crueldades. Como vítimas, estão além dos animais de estimação os irmãos mais velhos, que sofrem muitas vezes incontáveis martírios às mãos dos manos e manas mais novos, e como tal impunes. Bem diz a Bíblia que os últimos serão os primeiros: os últimos a nascer, são os primeiros a atazanar a paciência dos mais velhos. Eu sei bem do que falo, como irmão mais novo, recordo-me de ter destruído a colecção de carteiras de fósforos do meu irmão; Ter oferecido aos colegas de escola a sua colecção de lápis e de um outro sem numero de actos destrutivos, que me levariam a mim ao desespero se a situação fosse oposta.
-As criancinhas dizem tudo o que pensam. Por isso ser adulto não é ser sincero e se em alguma altura nos escapa uma frase ou comentário, que nos enterra em sarilhos até ás orelhas, podemos sempre culpar a criança que vive ainda dentro de nós. As crianças não se defrontam com problemas quando dizem aquilo que pensam, pelo contrário nós sim; Ainda que muitos adultos além de não dizerem o que pensam, não são capazes sequer de pensar no que dizem.
-Mas há mais. Imaginem que se vos escapa um eructo, ou um flato em público; Imediatamente se instala o maior dos silêncios embaraçosos e logo vos transformais no suíno daquele grupo de pessoas. Por outro lado, se tal acontece com uma criança, logo os sorrisos maternais se abrem de par em par; “Escapou-lhe…, coitadinho que querido!” Isto, ainda que a criança seja uma besta mal-educada, filha de pessoas que não sabem educar, sem princípios e sem outra preocupação com o bacorinho, que não seja a de o ter na escola a maior parte do dia e em silencio quando perto de si.
-Estas atitudes, por parte dos adultos, são no mínimo, imbecis; Pois aquele que de pequeno deita fogo ao jornal em casa, quando crescer, incendiará a fábrica para receber o seguro. Por aquilo que hoje os elogiamos, amanha condenamo-los em tribunal.
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