quarta-feira, agosto 23, 2006

1 ANO





















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Um ano depois de começar, foram muitas as coisas que nunca encontraram lugar ou oportunidade de figurarem aqui e seria IN-Provavel que tal acontecesse. Eis algumas:

-Sempre que peço desculpa isso ajuda os meus neurónios.
-Eles dividem-se, uns apontam para o sul outros para a direcção oposta e outros ainda retiram de uma pasta de couro castanha, como a minha, salpicão, chouriço, queijo de cabra e pão de centeio. Falamos todos muito, muitas vezes em absoluto silêncio. Se tivermos agido correctamente, sentimo-nos todos muito melhor.

-O tempo existe, é gratuito, está aí o tempo todo; Rodopia nos relógios, soa do alto dos campanários, nas rádios e televisões em curtos silvos agudos; mas não leva as dores consigo.

-Hoje de manhã, quando ousei afastar os lençóis e arrastar-me até à casa de banho, reparei antes de desfazer a parte da barba que corto todos os dias, que onde antes existiam dois pelos brancos existe agora uma mancha pequena. Podia ser uma sinal, mas afinal sou só eu quem acredita em sinais!

-Era ainda muito cedo ou talvez demasiado tarde.
As estrelas ainda brilhavam e a lua ainda era cheia da luz da madrugada.
No horizonte, haviam mais dúvidas e montanhas do que nuvens claras.

-Qual é o estranho processo da memória?
-O que faz com que recordemos com minúcia e detalhe alguns factos e não recordemos nada de outros?
-Que mecânica ou reacção química faz com que não deixemos de lembrar situações que preferíamos esquecer?
-Porque alguns factos desagradáveis ou apenas tristes, são relegados para o limbo da não lembrança, para o fundo de um baú, e outros não o são?
-A quantos não assaltou já o desejo de esquecer uma pessoa e não foi nunca possível nem será?

-Frases soltas, diálogos incompletos, personagens perdidas e desencontradas.Romance que talvez um dia escreva e que comece assim:
“Naquele fim-de-semana, toda a angustia regressou de novo e se instalou desconfortável, sem aviso ou convite. Veio como de costume para três dias inteiros de cinza e névoa fria.

-Escrever é como uma catarse mas não apenas um catarse.
-Escrevo apenas para me ajudar a pensar e nesse acto sem corte nem costura, descanso a alma por vezes. Nunca pretendi auto-analises ou exorcismos.
-Escrevo, ora elíptico, ora espiral e por vezes concêntrico. Outras vezes não me reconheço no que releio, mas revejo-me ainda assim no que sinto ali escrito.

-Era sábado de tarde quase noite; Ali perto os sinos de uma igreja tocavam a chamar os crentes, os felizes e os de coração confortado.
-Era sábado, era triste e chovia lá fora, para lá dos vidros do café silencioso e vazio. Era sábado e eu, chovia tristemente ao som dos sinos da igreja dos felizes.

-A aranha tece por instinto uma teia de delicado desenho com que enfeita a natureza. Tece-a apenas para apanhar as suas presas e não para decorar a visão dos humanos. Uma rede subtil, capaz de arrebanhar o orvalho das madrugadas e o aguaceiro leve em contas de reflexo diamantífero sob a luz da lua e do sol matinal.
-Uma emoção geométrica, perfeita da evolução pegajosa de que todos somos parte. Todos somos aranha e a sua presa.

-Há dias atrás, tinha na mão um livro que desfolhara brevemente dias antes e onde lera uma deliciosas passagem acerca das inconsistências da antropologia. Como não a encontrava, pensei fazer uma busca por palavras…
-Fiquei triste por reparar que não era um monitor aquilo que tinha na minha frente. Duplamente triste por estar, talvez, a perder uma raiz mais.

-Existem circunstancias bem estranhas na vida. Uma das mais estranhas é sem duvida a ocorrência das dores físicas. Existem algumas com que nos habituamos a viver, de tal modo quem em determinadas alturas especiais, são tudo aquilo com que p+odemos contar. Aconteça o que acontecer estão lá.

Rui

2 comentários:

con-tradicoes disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
r disse...

Escreva o tal Romance!