sábado, setembro 09, 2006

Dor



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-O que é a dor?
-Algo necessário e inevitável?
-Um aviso, uma indicação de algo vai mal, uma mensagem do interior de nós?
-Será a dor sempre algo desagradável?
-Bem…, exceptuando casos específicos de distúrbios comportamentais, a dor é algo que todos procuramos evitar e que dispensamos por ser exactamente aquilo que é: uma sensação dolorosa. Não sei se é inevitável ou necessária e casos existem em que é mitigável.
-Comummente fala-se em dores agudas, dores persistentes, pós-operatórias, distrofia simpática reflexa que é um tipo de dor neuropática, psicogénicas, nevrálgicas e mais uma série de géneros que se podem encontrar em livros de medicina, com causas conhecidas e relativos tratamentos. Mas ao contrário destas, existem outras contra as quais pouco ou nada se pode fazer e que nada têm que ver com as que se sentem no corpo, nem provêm de feridas visíveis. Uma delas, a dor da perda, é uma dolência que nada mitiga ou cicatriza, que apenas o muito tempo abranda mas que nunca desaparece e cuja chaga nunca fecha.
-Cada um de nós tem um modo próprio de a enfrentar, mas invariavelmente o único que sabemos usar é a fuga inconsequente e escusada, pois para um quer que fujamos a dor acompanha-nos empenhadamente e não nos larga. Podemos usar a negação e tentar não pensar na sua razão ou objecto, dedicar os pensamentos todos a outros pensares, mas ela estará sempre ali, esperando todos os momentos de descuido para se tornar mais presente ainda do que antes. Não nos damos quase sempre conta de que nada adiantamos em tentar lutar contra ela, a dor não é a nossa verdadeira inimiga e quase nunca sequer, existe um inimigo real, concreto e nominável.

“O tempo tudo cura” dizem uns, “com o tempo tudo passa” dizem outros.

-Falar é fácil e gratuito, é inglório e só quem não sente a dor que nós sentimos é capaz de falar assim. Para quem sente essas dores reais, os dias claros e ensolarados são dias escuros de inverno chuvoso e todas as horas tem demasiados minutos de intermináveis segundos cada um e todos eles.
-Outra corrente de falsos conselheiros, apregoa que é necessário escutar a dor, saber de onde provem, aprender a sua inevitabilidade e continuar com a vida, porque de um ou outro modo sempre irá estar ali, dentro e presente. Escutar a dor não é mais doloroso do é senti-la, nem o é menos. Saber de onde provem, não evita que doa e conseguir acolhe-la é um cúmulo de sofrimento que apenas é ultrapassado pela tentativa seguinte de o fazer.

-Não sei teorizar nem mais nem melhor acerca da dor e não gosto de o fazer; Mas uma coisa sei com toda a certeza: a dor é profundamente injusta e a injustiça é para mim impossível de aceitar sem uma boa e insuportável dose de raiva e angústia ou com um sincero sorriso. Sei também que perto de algumas dores assim, as dores físicas tornam-se suportáveis. Meras manchas desfocadas, ao fundo, numa realidade também injusta mas quase compreensível e até, se fosse possível trocar, desejável.


Música para hoje: “I Really aAm Such a Fool” EZSpecial