quinta-feira, novembro 05, 2009

Pessimismo português Vs. Realismo nacional

pessimismo  in-provavel

Se um dia me tornar pessimista ou uma noite me tornar realista hei-de escrever algo como isto…

Vivemos num tempo em que o modernismo é uma ideia antiquada e ultrapassada somos “pós-pós-modernistas” o que não significa nada…

A filosofia perde interesse a cada passo e tende a deixar de ser ensinada, aprendida e entendida.

A moral social é censurável por impor valores comuns à generalidade da sociedade. A moral religiosa foi substituída por uma moral laica indefinida e indefinível. Os deveres, que eram religiosos, passaram a ser “laicos” e apenas para com a amálgama a que se chama sociedade; para com a cidadania que ninguém pratica, venera ou reconhece. Já ninguém na sociedade actual ou na actividade politica ousa falar em deveres mas sim em direitos. Os “eleitores” não admitem possuir deveres nem sequer o da participação nas decisões que directamente lhes dizem respeito.

Os cidadãos não exercem a cidadania; não invocam ou actuam em função de deveres, antes manifestam e exigem os seus direitos individuais chegando a confundir uns com outros e ignorando quase tudo acerca de ambos.

Temos um Capítulo inteiro na Constituição acerca de “Direitos, Liberdades e Garantias” e nem um único artigo acerca de Obrigações e Deveres. O capítulo dos Direitos está lá, mas o desrespeito pelo seu conteúdo é cada vez mais evidente, óbvio e irrelevante em termos de consequências. A noção de obrigação não possui cabimento; A proibição acabou por ser proibida sem que se tivesse antes inventado algo que a substituísse como poder de regulação.

A concorrência, confunde-se com manobrismo sujo e vil; a actividade produtiva com trapaça que visa unicamente o lucro; a livre iniciativa confunde-se com selvajaria e pactos obscuros que visam o controle absoluto .A “sacrosanta” noção de LIBERDADE, ela mesma, confunde-se a cada passo com Libertinagem.

O individualismo impera e arrasa os valores colectivos. É o salve-se quem puder em todos os campos. A política prima pela subserviência à economia; pelo principio vergonhoso da irresponsabilidade e impunidade geral; pelo despotismo e descaramento evidentes, apregoados à boca pequena e elogiados entre aqueles que juram servir e servem apenas para se servirem dos outros seus pares.

A Justiça não é cega, é lenta e estúpida por ser inoperante e injusta por não ser nem parecer ser justa.

O “estranho”, o exótico, o chocante, o “diferente” é o mais valorizado. A normalidade e a descrição são secundarizadas.

A austeridade é risível; a modéstia é impraticável. A Educação e a cultura confundem-se numa mera estatística estatal, manobrada a cada momento, a cada maré e a cada gabinete ministerial.

A Democracia envelheceu em vez de ter amadurecido. A República monarquizou-se naquilo que de pior ambos os regimes possuem. Os órgãos tornaram-se aparelhos e os aparelhos organizaram-se em função de objectivos abjectos e de grupos de pressão que se servem apenas a si mesmos.

É o tempo do pós-dever, do imediatismo, do ego.

Em Portugal, o fundo do poço é apenas uma nova etapa na descida e a luz ao fundo do túnel, um comboio desgovernado e pronto a atropelar-nos novamente.

Portugal não inventou os maus políticos, mas a impunidade podia ter sido inventada por cá.

2 comentários:

Daniel C.da Silva disse...

Amigo

Gostaria que deixasses no post abaixo a tua presença, para um jantar informal onde as tuas ideias para o mesmo serão bem vindas.

Obrigado. Abração

http://sairdaspalavras.blogspot.com/2009/11/jantar-de-bloguistas.html

Disse disse...

Estou há mais de dez minutos mentalmente a ovacionar de pé. Brilhante.