-Há dias tive uma conversa ocasional acerca da desilusão e ainda não esqueci algumas das coisas que nela disse e ouvi.
-Afinal, a desilusão só existe por oposição à ilusão. Só pode existir se antes tivermos sido iludidos, se nos deixámos iludir ou (pior) nos tivermos iludido a nós próprios de um modo qualquer.
-Quando olhamos para trás, ainda que para um passado próximo e concluímos que aquilo que existia, o que era único e diferente todos os dias, se desvanece a cada dia novo deixando no seu lugar uma ferida insanável durante um tempo indeterminado… estamos perante a desilusão.
-Nessas alturas, tudo o que fazemos é dúplice: possui dois aspectos, dois formatos, duas facetas como uma mesma moeda vista de apenas um lado de cada vez. Afirmamos que não havia afinal para connosco ou em nós, nenhum dos sentimentos que antes víamos com toda a clareza, mas simultaneamente recusamos acreditar que assim fosse e temos todas as razões da lógica para o fazer.
-Alternamos entre uma afeição profundíssima e uma imitação de ódio que nos impomos sentir como couraça contra os outros sentimentos. Somos ora esperançados, ora desesperados e passamos de um estado a outro sem qualquer sinal definível, sem a necessidade de um “click”, sem querer e sem pedir desculpa.
-A desilusão não é uma faca que golpeia e mata , como dizem os poetas. É uma faca de dois gumes , encurvada, com serrilha, lima, lupa e saca-rolhas… Não golpeia apenas, amplia, dilacera, esmaga, retorce os nervos, os músculos, os pensamentos todos e infecta com o vírus da tristeza, a bactéria da saudade e a gangrena do sentimento de perda.
-Porque falei disso hoje quando as eleições autárquicas foram ontem? Porque a desilusão de uma só pessoa é mais importante do que todas as ilusões criadas em cada acto eleitoral e porque me apeteceu e posso.
3 comentários:
Execpção à frase feita que muita gente usa, de que desilusão é porque houve ilusão (no sentido literal do termo será, mas nao é nesse sentido que o usamos), gostei muito da tua dissertação sobre a desilusão. A partir de "Quando olhamos para trás" até ao final. Está muito interessante e leva a pensar mais longe. E terminas bem: "a desilusão de uma só pessoa é mais importante do que todas as ilusões criadas em cada acto eleitoral".
Abraço e... o ursinho está um mimo, tao fofo
Rendi-me a esta reflexão. Fiquei a pensar no assunto. Gostei
Deixo um beijo
Gostei, principalmente da parte final...sem dúvida!
bj
zeza
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