quinta-feira, abril 24, 2008

25 de ABRIL


























-Durante anos, muito foi aquilo que foi dito acerca do 25 de Abril de 1974. Aliás, penso que foi dito tudo e de tudo; Foi dito aquilo que era verdade e o que era a mais perfeita das deslavadas mentiras. Foi contado o que se passou e muito do que nunca sequer passou pela cabeça de ninguém na data em causa. Descreveu-se, contou-se recontou-se e efabulou-se. Edificaram-se heróis irreais e esqueceram-se reais heróis. Fabricaram-se defensores da liberdade democrática que o não eram nem nunca foram e estigmatizaram-se alguns que realmente sempre o haviam sido.

-Todos os anos nesta data, não existe Assembleia Municipal, Associação, Cooperativa, Agremiação, Sindicato, Freguesia, Grupo Social, Desportivo, Cultural, Bairro, Partido ou tendência que no mais ínfimo rincão do Portugalito real, não comemore com discursos, descerramentos de placas comemorativas e baptismos todas as pracetas de miserável aspecto urbanístico, ou ruas empoeiradas, apondo-lhes o nome dos heróis vigentes ou a data que se celebra.
-Esta insistência quase cega, embora compreensiva, em relembrar para que se não esqueça, acabou por produzir o efeito oposto do pretendido. Tornou muitas das orelhas interessadas em “orelhas moucas” e as próprias palavras tornaram-se roucas com a idade dos seus pronunciantes. As oratórias de comemoração tornaram-se para muitos, meras palavras de circunstância; a atitude tornou-se um mero acto comemorativo e o significado real do facto comemorado, tornou-se ele mesmo, uma memória cada vez mais longínqua e desfocada.

-Este é o papel de todas as “revoluções”. Sanadas as feridas provocadas pelo rompimento que todas as mudanças súbitas provocam, a evolução reduz a sua velocidade ao ritmo da mudança comezinha e diária, enquanto as memórias se esfumam à exacta velocidade do esquecimento.
-O 25 de Abril de 1974 não é excepção e daqui a cinquenta ou cem anos, o seu significado e importância real, serão exactamente os que hoje atribuímos ao 1 de Dezembro de 1640, ao 10 de Junho ou ao 5 de Outubro de 1910. Meras datas no calendário civíl, assinaladas como feriados e que envolvem a importância que a Escola e os meios de comunicação lhes atribuem; Muito mais como espaços a ocupar nos media, do que como exaltação de princípios e memórias daquilo que alguém fez por todos nós e que nos permitiu ser aquilo que hoje somos ou que não soubemos aproveitar para ser melhores do que poderíamos ser na realidade.

-É verdadeiramente muito difícil, senão impossível, explicar o significado de LIBERDADE a quem nunca padeceu da sua ausência. Tal e qual como é difícil apontar a perda de “liberdades” a quem nasceu com todas elas ou a necessidade do exercício responsável da liberdade, a quem sempre se achou apenas com o direito de ser livre.

Nota: Há não muito tempo, dizia-me uma das minhas sobrinhas (pessoa educada, culta, responsável e observadora) que as pessoas da geração “anterior” à sua, eram muito mais sensíveis a tudo o que pudesse implicar qualquer perda ou redução de liberdades e direitos, do que as pessoas da sua própria “geração”.

Tinha toda a razão e em ocasiões como a que se comemora entendo porquê!

Se o 25 de ABRIL fosse hoje:

Seriam quatro os estúdios de televisão para ocupar e ainda ficariam os canais por Cabo e a Internet.

Os soldados teriam de pousar os “fumos” para sair dos quartéis e haviam de dar vários tiros nos pés por falta de instrução básica.

A GNR teria de ser chamada das auto-estradas, das brigadas de combate a fogos, da Brigada Fiscal e da de Conservação da Natureza.

Otelo Saraiva de Carvalho atrapalhar-se-ia com os números de telemóvel a que teria de aceder desde o Posto de Comando e em vez do seu abuso do “PÁ” diria mil vezes por cada frase: “YÁ”

As colunas de cavalaria perder-se-iam algures entre a 1ª e a 2ª Circular e o Jipe de Comando seria vítima de “Carjacking”

O primeiro-ministro daria uma conferência de imprensa a anunciar que a inflação descera e que tudo estava no melhor dos mundos, ainda que já estivesse no interior da Chaimite finalmente a caminho do exilio.

Vinte minutos depois do inicio do movimento, este seria patrocinado por uma cerveja qualquer.

Os “comunicados do movimento” começariam assim: “Prontos… Ker deXer… ixtu é axin…”

Sem comentários: