-Pronto, eis então que quase de repente começa tudo de novo.
-Como todos os anos, todos os Verões, a habitual praga está de volta. Quase sempre começa devagar e timidamente ainda na Primavera. Primeiramente são as “Feiras do Livro” de Lisboa e Porto e as milhentas réplicas pelo país inteiro. As “gentes” afluem em peso e desmedidamente, passeando por entre as barracas, desfolhando, fingindo que lêem, que sabem, que gostam e até que tencionam comprar. Outra parte aproveita a frescura do fim do dia e do início da noite para apenas passear por lá entre encontrões; Como se o simples facto de se arrastarem entre barracas repletas de livros, lhes transmitisse o conhecimento que lhes falta. Benditos sejam, dizem de todos eles, os livreiros.
-Antes, já houvera a feira do chocolate, a da castanha, a da noz, a do fumeiro e outras onde a multidão se apresenta na expectativa de tirar a barriga de misérias, no que às coisas boas diz respeito. Sempre com a falsa expectativa de preços mais em conta ou de amostras gratuitas. Pobres crédulos. Benditos sejam todos, dizem em coro os produtores.
-Mal o Verão ameaça, aparecem então os festivais de rock. Primeiro dois: um em “Cascos-de-Rolha” e outro em “Cú-de-Judas” de quem ninguém nunca ouviu sequer falar. Depois multiplicam-se, juntam-se-lhes os de música Celta, música Árabe, de Flamenco, de música Clássica, de Jazz, world music (?), guitarra, cavaquinho, pífaro e mais seis dúzias de festivais de rock nos cinco cantos do país. Milhões de decibéis, toneladas de poeira, toneladas de charros; Tudo patrocinado por uma das duzentas espécies de cerveja anunciadas por um ex-futeboleiro qualquer.
-Chegamos até ao ponto em que não existe térrinha que tendo (ou mesmo não tendo) um castelito qualquer, não erga tendas e panos para um “Festival Medieval”. Assim, depois de nos tirarem os Euros e nos darem em troca umas patacas que nada valem, podemos observar aqueles sofríveis cavaleiros mal trajados, sobre umas miseráveis pilécas a cruzarem espadas num péssimo travestismo de combate mediévico. Quase tudo é ali ridículo: as vestimentas dos figurantes calçados com sapatilhas Nike, os tasqueiros ao telemóvel, as espadas de lata e os bobos, que são os únicos que (embora sem ponta de graça) cumprem o seu papel; eles e as bostas que podem ser pisadas gratuitamente.
-Outra destas verdadeiras pragas de Verão são os festivais de comes e bebes. Não há paparóca nem beberagem que não possua o seu “festivaléco”. Já aqui referi o do chocolate, mas que dizer dos de cerveja, francesinhas, sopas, cerejas, açordas, caracóis, tripas, sardinhas, caça, omoleta, queijos, sorvete, feijoadas, chicharro, enguia, cabrito, blá, blá…
-Famílias inteiras e grupos de alarves amigos, para lá se dirigem. Pagam para entrar ou pagam caríssimo, aquilo que tem todos os dias oportunidade de devorar. Depois comem, comem já frio quase sempre e com cobertura de poeira e imundice. É quase zoológico vê-los a mastigar de boca aberta ou a sorver líquidos com a habitual banda sonora e no fim, o tradicional arroto que tanta gargalhada faz soltar. Benditos sejam, dizem os organizadores que apenas comem em casa.
-Festivais de artesanato, que eu conheça, são mais de mil. Na grande parte deles aquilo nem artesanato é. É comércio puro e duro à mistura com mau gosto, oportunismo e falta de bom gosto.
-Existem mais, muitos mais exemplos, como por exemplo os festivais de folclore, fogo de artifício, velharias, bandas filarmónicas, gaiteiros, tocadores de bombos, caça, pesca, grupos corais e até um que se chama “Multiusos”.
-Benditos sejam todos, digo eu.
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