sexta-feira, agosto 26, 2005

Sabor do acordar


Acordar todos os dias, é sem duvida um estranho acto que praticamos sem muitas vezes sequer nos darmos conta de que o fazemos e como vai mudando a sua importância e o seu “sabor” ao longo dos anos da nossa vida. Inicialmente fazêmo-lo apenas por necessidade fisiológica: para comer, ou melhor, para sermos alimentados e “higienizados” ou apenas porque já não temos sono e temos muito a aprender com a observação do mundo. Mais tarde acordamos com a ideia fixa de brincar e continuamos a querer aprender com o mundo. Mas logo, começam as obrigações escolares e aí o acto simples de acordar ganha foros de obrigação, de perfeito dever. Também o seu sabor deixa de ser o sabor a pequeno-almoço e satisfação por mais um dia a preencher com correrias e saltos, com brincadeiras com os primos, os amigos, com a vizinhança e o gato ou cão. Agora o sabor é muitas vezes a sal de lágrimas contrariadas e a pressa para sair que já vai sendo hora. No entanto nesta altura o acordar ainda tem sabores variados: sabor a dia de festa lá em casa, sabor a dia de S. João, sabor a ida à praia, sabor a chegada da avó, sabor a Natal… quem não se recorda do sabor do acordar em dia de Natal? Ou do sabor do dia em que se vai fazer uma viagem que nunca se fez?

Pouco depois estes sabores ainda existem mas misturam-se já com outros mais adultos como o sabor do dia de prova de matemática, ou de dia de exame e aí, os sabores ganham um especial amargar nas manhãs.

Rui

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