Angústia ao chegar por não saber o que vou encontrar. Angústia ao partir por não saber se voltarei a encontrar alguém na seguinte etapa desta Via Sacra dessacralizada, nesta corrida de idas e retornos a um hospital onde a esperança não reina, não governa, não mantém e já nem ilude sequer.
Nunca me passou pela cabeça que tanta gente acorresse em “peregrinação” a um hospital em busca de um familiar, de um ente Querido, de uma notícia que não fosse de alguma forma má. Nunca testemunhara tanto choro contido, tanto sofrimento silencioso, tanta esperança tão vã. Está por todo o lado, lá onde passo. Nos elevadores onde os olhos não se cruzam para não deixarem o chão, nos corredores onde as perguntas se trocam com o respeito que apenas ali existe mas que é medo e não respeito.
No átrio ou na cafetaria os rostos variam de expressão, de brilho nos olhos e de intensidade de sentimento mas raramente de preocupação ou de grau de triste desespererança. O casal da província que come uma “sandes de presunto” e uma sopa a um canto; O homem sozinho a olhar a chávena de café há 20 minutos. A ansiedade das irmãs que aguardam a sua vez de subir para a visita paterna. A família cigana que de negro aguarda a “palavrinha” que o médico há-de dar enquanto dispensa aos garotos o colo e carinho que eles próprios necessitam naquela expectativa de horas de espera.
Todos os dias a mesma desorientação de pessoas que chegam e não conhecem o “Piso 3”, a enfermaria “Y”, o significado da senha “J”. Não sabem e gostariam de nunca saber, gostariam de não estar lá, gostariam de jamais saber naquelas circunstâncias.
Os nervosos que contam anedotas entre amigos, enquanto sugam veementemente cigarros que apagam no vaso de areia do lado de fora da porta; Os “profissionais da visita hospitalar”, que tratam as maleitas pelo nome próprio, os sintomas e tratamentos pelas experiências dos primos e dos vizinhos que já se “finaram”. Os que não perdem uma ocasião para se debruçarem na cama e deixar escorrer a lágrima de lagartixa para exclamar o “Coitadinho/a”. Já viram tudo na pessoa dos outros; já lhes morreram assim os cunhados, os amigos, os colegas. Para estes, a “visita” é motivo para contar na tasca, no café ou para recordar na próxima visita a outra vítima inoportuna da doença e da sua (deles) concuspicência e curiosidade mórbida em forma de piedádezinha.
1 comentário:
Está muito bem escrito. Gostei de ler, nao obstante o conteudo de alguma forma sofrido...
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