Terra de cegos
Quando vi (e ouvi) o Senhor bastonário da Ordem de Todos os médicos e o senhor presidente do Órgão Corporativo que abrange os nacionais-oftamologistas, a alertar os cidadãos acerca dos perigos “terríveis” de serem operados em Cuba, não pude deixar de sorrir o mais amareladamente possível.
Todos, TODOS, sabemos quem sempre se opôs à abertura de mais cursos de medicina. Sabemos que a consequência imediata foi a inflação das notas de entrada nas actuais faculdades. Sabemos que os únicos beneficiados foram os médicos em geral e que os prejudicados fomos TODOS NÓS em geral e particular!
Temos TODOS consciência que hoje em dia não é médico quem possui real vocação para o ser, mas sim quem possui todos os meios necessários para obter as notas de ingresso na Faculdade de Medicina. Conhecemos quem beneficiou e beneficia com tais práticas; Quem, entre todos os recém-licenciados, tem emprego garantido no final do curso superior. Sabemos quem se recusa a “migrar” para o interior do país, a fim de prover as vagas de especialidade que aí existem e sabemos que o não fazem porque a medicina privada no litoral e nos grandes centros habitacionais é muito mais abundante e rentável.
Nunca vi médico algum (excepto uns em Coimbra e alguns amigos que tenho) preocupados com as “Listas de Espera” perfeitamente terceiro-mundistas que afectam o nosso Sistema Nacional de Falta de Saúde! Essas mesmas listas são a garantia de trabalho num qualquer possível ano de crise. A garantia de expansão dos protocolos entre o Estado e indústria privada da Saúde. A obrigação que se não cumpre no sector público e que rende ouro no privado. O esforço que se não faz e o lucro que se procura.
A imagem de impunidade na má prática de actos médicos é a que mais circula. A ideia de omni-poder por parte da classe médica é constante em cada português médio e em cada doente, a par com a imagem de ineficácia e de trapalhada com que se vive (e morre) em todos os hospitais.
Dizer que tudo não passa de um problema politico é a mãe de todas as desculpas; É como querer retirar do “capote” todas as gotas de água que alimentaram a sua sede e o afogamento de outros.
2 comentários:
As operações em Cuba representam um perigo, efectivamente. O de uns milhares de cidadãos, leia-se futuros clientes, se fartarem desta vergonha e mandarem passear suas excelências os senhores doutores, procurando lá fora o que cá lhes é vergonhosamente negado. E não é só Cuba, que Espanha é já aqui ao lado!
Xi Grande
é verdadeiramente nojento... o sistema, os médicos, tudo.
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