quinta-feira, junho 21, 2007

SEMPRE












-Mais do que apenas uma personagem curiosa, era uma pessoa peculiar.
-Uma pessoa da mais saudável excentricidade; ou como costumo dizer: “um tipo castiço, um autentico castiçal”.
-Possuía uma leviandade quase juvenil, descuidada por vezes em alguns aspectos menos importantes. Sempre apaixonado por causas ou opiniões, sempre ardentemente. Boémio quanto baste, improvisador, alegre quase sempre, excepto nos momentos (raros) em que parecia descer ao plano do vulgar sob o peso das suas, raramente confessadas e inumeras agruras.
-Dono de uma cultura rara e de uma experiência de vida raramente encontrada, parecia ter vivido três ou quatro vezes a idade que tinha e que ninguém nunca lhe adivinhava. Tinha uma lógica perfeita no discurso e uma profundidade de sentimentos que muitas vezes o fazia emocionar-se com facilidade com factos, que a muitos, poderiam parecer triviais.
-Tudo nele parecia ter apenas parecia ter apenas dois estados: a calma paciente, quase beatífica e absoluta e a explosão tumultuosa. Acérrimo defensor dos seus pontos de vista, era assertivo nas discussões que por vezes gostava de provocar e de que saía quase sempre vencedor absoluto. Nessas ocasiões, parecia um furacão de razões, tal era a forma como destruía até ao mais pequeno grão de pó os argumentos dos que dele discordavam. De uma penada só, destruía-lhes não apenas a argumentação mas também as ideias e as opiniões que possuíam ou que pensavam possuir. Capaz de rasgos com frases literatas que sempre surpreendiam quem lhas ouvia, parecia saber sempre tudo acerca do que quer que fosse de que se falasse. Isto, sempre sem a mais pequena atitude de desprezo pelos outros, sem a mais pequena presunção que fosse passível de censura.-Recordo-me do modo concentrado como lia, escrevia ou desenhava; da absoluta atenção que colocava em tudo o que fazia e também recordo que por vezes enredado em conversa com um amigo, era capaz de seguir 15 ou 20 minutos na direcção oposta à que deveria ser a sua. Nunca deixava de responder a quem o cumprimentasse e tinha um aperto de mão fortíssimo e ao mesmo tempo gentil.
-Talvez na realidade não fosse um génio, mas era de todos os que conheço o que da genialidade mais se aproximava e era capaz de atitudes grandiosas para com os amigos.-

-Ultimamente o nosso convívio tornara-se mais raro, mas não a estima e nem sequer a lembrança mútua ou a amizade.
-Soube ontem que morreu, atropelado e sem avisar ninguém.

-Sei que continuará à minha espera na mesa do costume, no café do costume e como de costume, por detrás de uma chávena vazia ou de um copo de cerveja meio-vazio e um cinzeiro meio-cheio.
-Já lhe tenho muita saudade