quinta-feira, março 01, 2007

Pequena definição de ironia












-Aos boçais, aos cabeçudos, a todos aqueles que tem pedra no lugar do cérebro há que esculpir-lha não com uma frase irónica, um dito mordaz ou uma observação jocosa. Há que ser preciso e contundente até mesmo soez, na frase, preferencialmente de índole sexual, para que primeiramente sorriam e pouco mais tarde, riam a plenos pulmões alarves. É necessário ser parlapatão e “grunho” para provocar-lhes essas gargalhadas epilépticas que os farão abanar os pescoços ruminantes que lhes prendem a cabeça ao mísero corpo; Para que abanem as ancas suínas e inchadas sobre que se arrastam e que terminam em inúteis cepos em forma de pé. Há que fazê-los tossir, engasgar e verter lágrimas. Muito tempo depois, hão-de ainda repetir a ridícula figura de cada vez que contam a pilhéria que ouviram; Hão-de bater com as manápulas toscas nos presuntos, enquanto em volta buscam o olhar cúmplice de outro boçal que se ria do mesmo modo que ele se ri enquanto celebram a estupidez obscena que nós lhe contamos.
-Esta é para mim a maior das ironias, o melhor uso que da ironia podemos fazer a mais doce vingança sobre a cretinice.
-Talvez por isso a ironia, a verdadeira ironia e não a tosca, seja tão depreciada. Muitos, não compreendem a sua agudeza perversa, a sua subtileza malvada, o seu propósito afiado como o punhal de um corsário.
-A ironia não desfere golpes de palhaço, mas sim passos de dança diabólicos.
-A turba ruidosa dos brutos, jamais entenderá nada de ironia enquanto se entretiver a golpear com ruído mas sem qualquer ritmo, paixão ou convicção o bombo da anedota vulgar e da comparação obscena.
-“Canalha com preconceitos”, chamou-lhes Borges.
-“Vou na direcção oposta.”, disse Bocage.
-A falta de ironia é a musculatura da anorexia, o bolor dos sujos. Ao passo que a sua existência é a dor doce e fina do fio da navalha afiada em mão de ser irónico.

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