---------Hoje mesmo, uma pessoa que muito respeito e considero, vai ter ocasião de publicar mais um livro.
---------É pelas 18:00 horas no Salão Nobre da Junta de Freguesia de Stº. Ildefonso no Porto e a apresentação da Obra será feita por: Mário Cláudio (Prémio Pessoa 2004) e por Snr. D. Manuel Martins (Bispo Emérito de Setúbal).
-----------Estarei lá presente e deixo aqui um pequeno texto extraído dessa obra.
---------- Sei bem o quanto o mundo lhe deve e o quanto ele jamais lhe cobrou. Se juntarmos uma vida e uma carreira ao serviço dos outros, dificilmente conseguiremos obter um tão brilhante resultado; Pleno de dádiva e de HUMANIDADE.
---------Ao meu, ouso chamar-lhe amigo, Dr. Alexandrino Brochado, o meu abraço de admiração.
LOUVOR DOS POETAS
Não se trata dum apego exagerado a coisas velhas que já morreram. Os cadáveres enterram-se.
A beleza e a arte verdadeiras nunca morrem. Ultrapassam o tempo. Têm o selo da perenidade.
Trata-se, sim, duma expressão de mágoa pelo abandono, pela rejeição de valores que sempre julgamos fora e acima de qualquer ataque ou inflação.
Há dias, numa homenagem prestada a um artista (com letra grande) português, este, ao agradecer as palavras de apreço e de carinho, afirmou: “A vida do artista é dura e áspera sobretudo no país em que vivemos. Aconteceu-me uma fatalidade: acabei uma nova obra… As composições ficam na gaveta, serão vendidas a peso e servirão para embrulhar sabão (o que já aconteceu) ou para buchas de foguetes…”
Palavras duras, magoadas, dum grande vulto da música portuguesa contemporânea! Sinceramente, tive e tenho pena que no podium da arte e da beleza sejam colocados pseudo artistas sem valor, sem dimensão e que os autênticos, os verdadeiros, sejam atirados para a prateleira das coisas velhas e inúteis, cobertas de pó.
E o que dizemos da música, afirmamo-lo da literatura. No momento em que entre nós a arte de escrever, cada dia mais se corrompe e se profana, sob o influxo de todos os estrangeirismos e extravagâncias, da grosseria e do calão, a gramática e a clareza, a elegância e a decência da expressão tornaram-se virtudes clandestinas de cultores atrasados, de velhos ritos.
Escrever mal é hoje uma escola. Parece que o desalinho da linguagem, as tropelias das palavras, o desmazelo da forma são hoje atributos do pensamento. Estilo hoje é palavra soez, é truculência da imagem, é obscuridade rebarbativa. A clareza, a simplicidade, são sinais de frivolidade, o brilho do estilo, uma inferioridade de gosto.
A arte é essencialmente expressão, expressão na cor, expressão plástica, expressão musical e não uma autêntica caldeirada literária ié-ié, como por vezes se verifica. Escrever não é amassar e ligar palavras como quem frita batatas. Pode ser-se profundo sem se ser obscuro ou cair em preciosismos de linguagem. Pode ser-se brilhante sem ser exótico; pode ser-se elegante sem ser arrebicado. A prosa pode ser viril sem cheirar a suor, nem ter as unhas sujas.
É sobretudo no trabalho da expressão estética que está a obra de arte e na sua criação o artista que a inspira e molda. E que dizer da mania de banir por completo o uso das maiúsculas? Será que a exigência da igualdade é tal que até no reino das palavras não se toleram diferenciações? A rasoira da igualdade total instalou-se também no mundo das letras?
Há tempos, lemos um artigo de pessoa com responsabilidade, em jornal também com responsabilidade, onde não aparecia um único ponto final nem uma única vírgula. Até a palavra Deus (parece um sacrilégio) estava grafada com minúscula!
Simples extravagância e ânsia incontida de originalidade ou insinuação duma ideia igualitária que domina todos os espíritos e parece ser a única preocupação do nosso tempo? Até para as artes os tempos são difíceis! Os jovens, que têm às suas costas a grande responsabilidade de construir um mundo novo e melhor, parecem deixar-se dominar pela psicose de escaqueirar todas as estruturas vigentes.
Há uma espécie de alergia a tudo o que é sensatez, madureza e apoio aos valores do espírito. E a ingenuidade, a falta de densidade mental nas afirmações e nas atitudes começam a vir ao de cima e a exercer um domínio despótico.
Na música e na literatura os sinais de desorientação e de rebeldia contra regras e cânones são por demais evidentes. E, numa atitude de inconsciência e irresponsabilidade, muitos buscam o subterfúgio do grito desenfreado, do sapateado nervoso e da mímica histérica. A música ficou reduzida a isto. E a prosa fresca e elegante? Tudo parece esboroar-se num mundo às apalpadelas e em busca de qualquer coisa que lhe foge rindo-se dele. Ironia da vida!
Até para as artes os tempos estão difíceis!
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