Medo de voar.
Sempre achei esta expressão interessante pela insensatez que encerra. Ter medo de voar é para mim o mesmo que ter medo de respirar debaixo de água ou medo de tomar banho em gasolina inflamada. Por outro lado, também é semelhante a ter medo de andar de autocarro, comboio, ou metro.
As fobias e nem sempre se trata de uma fobia… são interessantes e confesso que tenho eu mesmo uma ou duas que muito estimo e respeito enquanto elas me tratarem do mesmo modo. O medo, não o medo fóbico, faz parte da vida de todos e contribui para a nossa preservação e sobrevivência. Recordo uma história que me contaram que ilustra bem a questão:
“Dois homens primitivos atravessavam parte de uma savana. Um era medroso e o outro ignorava o medo. De repente ao ouvirem um rosnar entre a erva alta pararam e reagiram de modo diferente. O corajoso prossegui caminho e o que conhecia o medo correu na direcção oposta ao rugido procurando refúgio numas árvores próximas. Era um leão que rosnava e que se banqueteou com o “corajoso”. O que fugiu para as árvores… era o nosso antepassado e é ao seu medo que devemos o facto de existirmos hoje.”
Voltando ao medo de voar… nunca tive oportunidade de o conhecer pois que sempre que entrei num avião estava mais preocupado com os malefícios da “comida” de bordo, com a impossibilidade de fumar, com o palerma que a meu lado não se calava um minuto, com a estúpida criança atrás de mim que pontapeava o meu lugar ou com a hospedeira que apenas parecia mostrar interesse profissional por mim.
Já vi pessoas adultas a comportarem-se como autênticas criancinhas assustadas e/ou mal educadas, tremendo, soluçando, assobiando e tomando comprimidos como quem respira. Já assisti a dois ataques de pânico (um dos quais prontamente acalmado à chapada por outro passageiro) e a uma crise de histeria por parte de uma funcionária de bordo. Já enfrentei um ébrio a bordo mas já observei vários bêbados; a diferença é que o ébrio era educado.
Já soube de quem tenha passado duas semanas em estado miserável sem comer nem dormir antes de embarcar e que adormeceu como um bébé durante o todo o voo. Já me deixaram marcas negras num dos braços; já me impediram de ler e de dormir. Apesar de tudo nunca entendi este “medo de voar”.
Já pouco ou nada me admira, sobretudo quando se espera da parte do passageiro um comportamento civilizado e o entalam como se ele fosse uma sardinha de lata apenas por se tratar de um “Low Cost”.
O avião é sem dúvida (estatística pelo menos) o mais seguro dos meios de transporte. Garante mais conforto, rapidez e vistas bonitas do que outro qualquer meio de transporte e no entanto ainda há quem se recuse a sentar-se no lugar nº 13 como se em caso de acidente o impacto dos lugares nº14 e nº12 fossem atenuados.
-Voar não é perigoso. As quedas de aviões sim.
-A probabilidade de sobrevivência é inversamente inversa ao ângulo de chegada. Quanto maior este Ângulo menor a probabilidade de sobrevivência e vice-versa.
-É sempre melhor estar cá em baixo a desejar estar lá em cima do que lá em cima a desejar estar cá em baixo.
-Os levantamentos são opcionais; As aterragens são obrigatórias.
-Em pilotagem aprende-se muito com os erros dos outros. Com os próprios erros não costuma haver muito tempo.
-O melhor dos pilotos é aquele que iguala o número das descolagens com o número de aterragens.
-As hipóteses de haver uma bomba a bordo de um avião são de mais de um milhão para uma. Essa é a hipótese que todos ficamos a conhecer.
-Há mais turbulência provocada por pilotos com café a mais do que por causas atmosféricas.
-A única altura em que há demasiado combustível num avião é na eminência de um incêndio.
-Há mais aviões no fundo do mar do que submarinos no céu.
-Se num bimotor falhar um dos motores o restante tem sempre capacidade de levar o avião até ao local da queda.
-A única semelhança entre um controlador de tráfego aéreo e um piloto é esta:
Se um piloto faz asneira o piloto morre; se um controlador faz asneira o piloto morre.
-As previsões meteorológicas para a aviação comercial são horóscopos com números.
-Conselho dado ao pilotos da RAF durante a II Guerra Mundial:
“Se um despenhamento no solo for inevitável escolham sempre o objecto mais barato, menos habitado e menos sólido. Façam-no do modo mais suave e mais lento que vos for possível.
-Nos aviões a hélice, o propósito destas era manter o piloto fresco. A comprova-lo está o facto de que mal elas parassem de girar os pilotos começavam a suar.
-Jamais alguém deixou de regressar ao chão.
-Antigamente o sexo era seguro e voar era perigoso.
2 comentários:
Por mais irracional ou “in-provavel” que pareça, confesso que sou uma dessas pessoas com "medo de voar", tal como tenho medo de ir ao dentista. Não que alguma vez tenha deixado de o fazer, ou que não durma na noite anterior a uma viagem (quando muito, a falta de sono pode advir da ansiedade de chegar ao destino). Não, não se trata de uma fobia, apenas de um medo que julgo razoável, quase como algo primitivo e visceral que está, de alguma forma, inscrito nos nossos genes – “o corajoso foi comido pelo leão, não é verdade?”
Mas, mais importante do que o medo, patológico ou não, importa considerar o tipo de estratégia de coping que se utiliza para lidar com a situação. Tremer, soluçar, ter crises de histeria ou ataques de pânico são, entre outras, algumas das estratégias mais comuns… e que mais incomodam os outros. Oh, como compreendo esse passageiro que resolveu o caso à chapada!
Quanto a mim, utilizo uma técnica de relaxamento simples, que tenho vindo a treinar e a aperfeiçoar - Schultz. Ao cabo de poucos minutos, é mais do que certo adormecer, como se assim provasse que "Schultz" resulta mesmo. Fica a sugestão que é, seguramente, mais saudável do que tomar comprimidos e mais agradável do que soluçar. Só não garanto que funcione na cadeira do dentista…
Apesar de muito "improvável", no meio de tantos blog's encontrei este.
Gostei =)
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