A Moda dos Vampiros
A Vampiro-mania não parece ser unicamente nacional; exclusivamente culpa de Hollywood nem apenas uma moda dos grupos etários dos mais novos.
Um vampiro é por definição um ser (ou um não “ser”) que se alimenta do sangue (leia-se energia vital) de outro ser vivo. Possuem aspecto humano, pelo menos depois do pôr-do-sol e depois de uma boa camada de maquilhagem ou de uma campanha de uma boa agência de estratégias de comunicação e gestão de imagem.
A ficção, as séries, livros e filmes já os fizeram de todos os tamanhos, formas e feitios, desde os horripilantes e asquerosos aos belos e ganhadores de eleições. Há-os altos e maltrapilhos, baixinhos, de fato de corte italiano, gravata de seda natural, sem gravata; Com e sem barba branca. Já foram carecas, loiros, ruivos, cabeludos, morenos; Com e sem barba branca, com ar neo-punk ou aspecto de cidadão vulgar mas com comportamentos de elite.
A realidade, por seu lado fê-los administradores executivos e não executivos de mérito inexistente; políticos de profissão única, sentido giratório e reforma avultada; nomeados para chefias do sector público por mera posse de cartão partidário; dirigentes desportivos de oportunidade e carreira; directores de órgãos de informação e autarcas dinossauros.
Aquilo que separa os vampiros de ficção dos da mera realidade não é apenas a honestidade dos primeiros ou a ignomínia dos segundos. Não é apenas o facto de uns dormirem de dia e se alimentarem apenas à noite enquanto os outros não dormem para se alimentarem todo o dia e noite à custa de todos.
Não é sequer o caso de que os da ficção se alimentam de sangue e os da realidade preferem o produto do suor.
O que os separa é o simples facto de os vampiros reais existirem e estarem entre nós. Serem eleitos, nomeados pelos eleitos, protegidos pelos eleitos e terem as suas culpas abafadas pelos eleitos; verem as possíveis provas das suas culpas destruídas como se a luz do sol as destruísse mal começam a ser divulgadas.
Os verdadeiros vampiros não possuem caninos afiados, possuem palavras mansas e tempo de antena. Não nos mordem no pescoço em noites de nevoeiro com música de fundo; Comem-nos vivos a cada fim-de-mês, a cada declaração de rendimentos honesta, a cada desconto e a cada imposto que pagamos dando-nos eles (a nós) a música da crise, da restrição e da contenção que não praticam.
Ao passo que os vampiros ficcionais podem ser mortos com uma estaca no coração os vampiros da realidade não possuem nem coração nem nada no seu lugar.
Os vampiros da literatura morrem com uma bala de prata, os da vida afastam-se para a Europa, para o Banco Central Europeu ou para um cargo da ONU por trinta moedas de cobre que lhes pagamos.
Os vampiros das histórias não suportam o alho, os outros mastigam-no nos restaurantes da moda quando se reúnem para combinar estratégias durante refeições que pagam com os seus cartões do nosso crédito.
Os vampiros reais não temem a água benta tal como não temem a revelação das escandaleiras em que se envolvem pois não se demitem em nenhuma circunstância.
Os vampiros repousam em secretárias de madeira exótica e design elaborado, em quartos de hotel e não em caixões ou em criptas obscuras. Não tem capa para voar, voam em aviões fretados com dezenas de convidados em visitas de Estado.
A única coisa que ainda têm ambas as espécies em comum é o terror pelas cruzes… uns (os de ficção) pelas cruzes religiosas, outros (os vampiros reais) pelas cruzes dos boletins de voto!
Além disso tanto vampiro quer na ficção, quer na realidade enjoa além de enojar!