quinta-feira, dezembro 07, 2006

Cidades









-Existem cidades onde quando se chega apenas se deseja partir. Cidades onde se chega sempre em tardes de Inverno. Lugares de janelas cerradas por detrás das quais ninguém parece viver ou dormir. Cidades-estação, sem bilheteira aberta e de átrios vazios, onde nem os passos me ecoam. Urbes vazias, feitas de pedra e melancolia.
-São cidades que nos chegam, são elas quem sai do comboio e não nós. Têm todas um pássaro negro, um jardim, um rio ou um mar, mas não me terão nunca.

Mas há outras cidades que trago em mim, na ia íris e na pele. Cidades que não consigo terminar de decifrar e que estão grandes no mapa da minha memória. Nelas, consigo passear pelo seu passado e pelo meu; Passeio numa estando noutra, como se fosse um fantasma, uma voz remota do passado que não consigo misturar. Gasto a sola dos sapatos e não trago fotografias nos bolsos dos sítios visitados. Em algumas, parece-me que mudei de corpo e não de cidade; Parece-me que a minha geografia já não é a minha mas outra de um solo que sempre conheci sob uma lua cheia constante.

-As cidades também podem ser saudade, recordação alegre e dolorosa de momentos passados nas suas ruas e becos. Saudade da beira-rio a que ainda não consigo voltar por ser o universo do passado recente e já passado.
-Ainda hoje, sou capaz de reconstruir esse universo de avenidas em palavras, com estranhos nomes de ruas estranhas, de praças a que volto a cada passo, a cada recordação que não consigo deixar.

-As cidades, como os amores e o bom vinho, não se podem misturar jamais.


Nota:

-A foto, encontrei-a aqui: http://pedro-o-tolo.blogspot.com/2004_03_01_pedro-o-tolo_archive.html ; -Apesar de construir de raíz ou adaptar sempre as imagens que aqui uso, neste caso seria um crime de lesa-beleza. A foto, traduz integralmente tudo o que no texto quero desajeitadamente dizer e diz por só muito mais.
-Vale bem a pena olhá-la em maior dimensão do que a que aqui apresenta.
-Ao feliz autor o meu obrigado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Como percebo o que aqui afirmas. Ainda hoje me sinto dividido, e já lá vão 12 anos...