Se algo nos dias que atravessamos me preocupa
é a semelhança “sociológico/histórica” dos acontecimentos de agora com os
acontecimentos contemporâneos e antecedentes da “Crise do mapa cor-de-rosa”.
O povo estava ignorante, bruto, indolente e à
espera de se tornar efervescente e violento. Parecia aguardar o surgimento de
uma causa externa (qualquer que ela fosse) que fizesse explodir a passividade e a
incapacidade de participar naquilo que seria realmente importante participar.
Tal como agora, o “povo” não era capaz de
protestar porque sabia que nunca participara e que sempre esperara, falsamente
esperançado, que alguém decidisse por si. Que alguém tomasse as rédeas do país
para o poder criticar sem assumir responsabilidade alguma no que até ali
acontecera. Sem assumir sequer a responsabilidade de participar votando ou
sequer de opinar antes de sofrer as “terríveis dores de bolso” e não depois.
Também agora acordámos violentamente de um
sonho de grandeza improvável que nos sugeriram e com que nos enganámos nós,
mais do que nos enganaram a nós.
Se somos como povo culpados de alguma coisa, somo-lo
de sermos… não mansos mas indolentes; de abusarmos do “não te rales” e de
tentarmos usar a fraqueza dos que nos rodeiam pensando que somos fortes e “espertos”
sem o sermos ou pensando que somos pelo menos mais fortes e mais “espertos” do
que os que nos rodeiam.
Historicamente, apenas recordamos as vitórias
das batalhas vencidas e as chegadas dos navios ao destino. Esquecemos as
derrotas que superam largamente as vitórias e os naufrágios que foram mais do
que as descobertas.
Falta-nos tanto de realismo como nos falta a
vontade de justificar uma opinião. Adoramos o “lugar-comum” em vez do
pensamento próprio; o “meu” e o “eu” em vez do objectivo comum; o facilitismo
imediato (o desenrrascanço) em alternativa ao planeamento realista atempado. A
reacção em vez da acção. O remediar em vez do prevenir.
Toda a GENTE tem
acesso à informação mas isso não significa que tenhamos o conhecimento e a
criatividade para poder ser competentes quando se expressam opiniões sob a forma
de… não me surge nada mais ilustrativo do que a palavra “arroto”. Informação
não é conhecimento e atitudes repentistas devem ficar nos estádios de futebol.
Não meus amigos! Nós não descendemos dos
marinheiros corajosos que entraram nas naus que descobriram o mundo e que por corajosamente foram procriando e morrendo! Nós somos os descendentes dos merdosos que não tiveram coragem para o
fazer.