quarta-feira, maio 23, 2012

Considerações acerca da Ressaca

ressaca gravis- in-provavel

 

  As bebedeiras de antigamente eram mais dignas do que as actuais.

  Quando se partia para elas havia a certeza de que o dia seguinte seria um dia de inferno invernoso, de caos, de peste, sede e guerra… sobretudo sede, muita sede.

  A ressaca era uma prova da existência de Deus e de que todo o prazer seria castigado. Uma borracheira das antigas era isso mesmo: uma borracheira das antigas.

  Hoje em dia há comprimidos e xaropes para a ressaca e as novas gerações não conhecem a verdadeira ressaca. Bebem como camelos que atravessaram um deserto e não sofrem consequências por isso. Apanham “pianchas” de caixão à cova e acordam novos em folha, prontos para outra.

  Claro que há uma crise de valores, se a ressaca já nada vale o que vale a “copofónica”?

  As “nássas” tinham razões e motivos honrosos. Ajudavam a esquecer ou serviam para recordar e eram grandiosas. Alegravam e entristeciam. As “nenas” eram inesquecíveis e memoráveis e as suas consequências também eram inesquecíveis. Hoje são inconsequentes e vulgares como os bêbados repetitivos e chatos.

  Sem o enjoo, a náusea, a terrível dor de cabeça, a azia, o desconforto de cada movimento e o sabor matinal a papel de jornal, um “grão-na-asa” perdeu a piada toda.

  Nunca fui um profissional das “chumbadas”, mas recordo bem as exaltações profundas e os belos sentimentos que provocavam; as declarações de amizade sincera e profunda, os desabafos sentidos e as sensibilidades à flor da pele. De cada vez que aconteciam, lá vinha a pancada matinal, o sol demasiado forte ainda que já fosse noite e se tivesse dormido o dia todo… mas sobretudo a promessa de que “NUNCA MAIS… nem uma gota”.

  Era uma espécie de luta entre o instinto de sobrevivência e o gin-tónico (mais gin do que tónico). Um conflito amigável entre dois inimigos figadais em que um deles era o meu fígado e o outro… era o vencedor.

  Ainda hoje quando vejo uma rodela de limão e uma garrafa de água tónica apetece-me gritar a plenos pulmões a palavra GIN e o cabelo na minha nuca eriça-se.

  Asprina, Guronsan, Alka-Seltzer, eram sinónimos de fraqueza de espírito; quase uma verdadeira traição ao espírito da coisa. Éramos habituados à sensação de morte eminente. Éramos estóicos apesar das falhas de memória. Éramos heróicos apesar de acordarmos vestidos e algumas vezes no chão do quarto.

Um brinde à ressaca!

Só mais um… Hips… p’ró caminho!

Post Sriptum: Há coisas na vida a que um Homem não foge: uma paixão bem vivida e…  Arre pôrra que ainda não bebi nada hoje.

2 comentários:

Fernando Lopes disse...

Com mais moderação, que o fígado já não é o que era, continuo a praticar a nobre arte de emborcar. Já te disse que a Galiza têm uma torneira só de Erdinger ?? :)

Lai disse...

é a mais pura verdade alcoólica com limão, e de fato, não há mais porre como antigamente e a ressaca está mesmo extinta. Mas dá pra mais uma dose aí...