-Não há nada mais “chato” do que um “chato".
Um
“chato”, pode muito bem tornar-se num autentico pesadelo para qualquer
pessoa. Pode aborrecer-nos de dia, acabar com a pouca paciência que
ainda nos resta ao fim de dia, ou estragar-nos as noites apenas pelo
facto simples de existir e de ser “chato”. Existem variados estilos de
chato: o “tolo da aldeia”, o perguntador obsessivo, o
falador exagerado, o crava-tudo, o lambe-botas, o “chato” maníaco da
alimentação racional, do anti-tabagismo, da legalidade exasperante, dos
telemóveis, da vida dos outros, das promoções e dos descontos, das
telenovelas e concursos, o chato do Jet-set a que chamam “aborrecido”,
enfim, uma variedade bastante variada deles. Mas sobretudo há um género
que me exaspera: O “Chato por falta de sentido de humor”. Confesso que
consegue quase sempre levar-me às fronteiras da perda de paciência. Não
entende anedotas nem sequer piadas subtis ou trocadilhos, não compreende
as observações oportunas e com graça que lhe fazem ou toma-as
literalmente, sem sequer um copinho de agua e ofende-se. Reage mal às
brincadeiras e… pior, normalmente acha-se
engraçado e bem disposto. A falta de humor é realmente uma coisa muito
“chata” de gente muito “chata”.
Existem e andam por aí à espera de uma ocasião para nos dar cabo do juízo e nos fazer exasperar ou simplesmente fugir deles.
Pessoalmente
odeio “chatos” e tremo de cada vez que penso que posso ser eu um, em
circunstancias que escapem ao meu controle ou em que inadvertidamente me
torne num. Por isso muitas vezes evito falar acerca de assuntos que
para mim tem interesse mas que para outros não passam de vagas ideias. Evito
dar continuidade a conversas que não me interessem e evito sobretudo a
companhia de “chatos” por ter sempre desconfiado que a “chateza” possa
ser contagiosa como uma espécie de sarampo da mente. No entanto, já me
tem acontecido ser apanhado com a guarda em baixo e deixar que um chato
se torne meu amigo. Depois disso torna-se muito difícil achá-lo “chato”
do modo que antes o achava e acabo por vezes até por gostar das pequenas
coisas que me exasperam mas que nele consigo, se não aceitar, pelo
menos entender como parte dele. Nessas alturas reparo, sempre como uma
novidade, que os “chatos” não sabem que o são. Vivem como se fossem
pessoas normais, vão a jantares, casam, tem amigos e filhos como se não
fossem os “chatos” que são. Alguns cometem mesmo o “crime” de serem
excelentes pessoas nos intervalos das sua “chateza”, são realmente
preocupados com os conhecidos e procuram ajudar sempre que podem, muitas
vezes sem que lhes peçam e algumas vezes atrapalhando mais do que
ajudam. Mas não será isso que faz deles más pessoas, apenas pessoas
“chatas”.
Espero não ter sido “chato”, mas não escrevo mais por recear que se torne uma chatice.