quinta-feira, dezembro 17, 2009

Natal na minha aldeia In-provavel

In-Provavel  Natal 2009

No final do Natal passado, o meu tio Eugénio (que regressou à aldeia depois de uma carreira longa como chefe de Repartição das Finanças em Lisboa) prometeu ao vizinho que haveria de encontrar um modo de manter vivo o espírito de Natal durante todo o ano. Tal e qual como o senhor Bernardo (O VIZINHO) e toda a gente deseja aos outros durante todos os natais de todos os anos.

Ontem, quando verificava o calendário reparei que era quase Natal novamente. Ainda não me tinha apercebido desse facto, nem pelos anúncios televisivos desde o início de Setembro, nem pelas luzinhas tremelicantes das ruas e das montras e nem sequer pela cambada de energumenos que invade as ruas da baixa e os centros comerciais todos, com sacos de papel ecologicamente quase-correctos nas mãos.

Foi então que me lembrei da promessa do “tio Eugénio” e decidi avaliar os progressos da sua promessa.

Sempre fora um egoísta, um verdadeiro “troll”, um apátrida de pátrias que não fossem a sua. Chamar-lhe egoísta seria um insulto gravíssimo aos egoístas em principio de carreira. Uma "joínha"de pessoa. Tinha por lema “Não faças aos outros aquilo que eles não fizeram por si mesmos” e “o que é teu é teu e o que não é pode vir a ser, desde que ninguém note!”. Uma “jóia de pessoa” e um ser humano… bastante actual apesar da idade vetusta que o possuía.

Calcei as botifarras, enrolei o cachecol, apertei a samarra e atravessei o vão da porta da rua para fazer uma visitinha ao Tio Eugénio. Pouco depois estava de volta para colocar o gorro e as luvas encarnadas mais a condizer com espírito da época, com as minhas convicções clubísticas, com o frio transmontano, com geografia e com a época do ano que se fazia sentir.

Quando cheguei à casa do meu “tio” apercebi-me de que havia alguma coisa de diferente no seu jardim e que talvez essa diferença tivesse algo que ver com a carroça doirada, sem rodas e com esquis por baixo, parada no centro do seu jardim; mesmo em cima da sua amada relva inglesa religiosamente aparada e adubada com desvelo e estrume de cabra.

-Então tio, para que é a carroça?

-Qual carroça pá… trenó é o que é! Como os dos filmes não se vê logo? Gostas? Tem sininhos e as palermices todas. É parte do meu espírito natalício- respondeu-me com um sorriso de suíça a suíça.

-É assim que vai manter o espírito de Natal durante um ano inteiro?

-É o princípio da coisa. Já mandei cortar a electricidade também. Onde já se viu espírito de Natal com luz eléctrica? Velas, velas de cera à antiga é que é! - Dizia enquanto acendia uma vela com a chama de outra e ma entregava para ele poder acender um cigarro com o isqueiro Ronson.

Olhei à volta e não vi árvore de Natal.

-E o tradicional pinheirinho? Não vai ter um?

- Só se for um de plástico, os naturais são modernices para os ecologistas e essa gente das cidades que nunca viu um ovo a sair do… da galinha. Além disso os pinheiros naturais morrem muito e de qualquer modo já enfeitei aquele que tenho ali mesmo na frente de casa.

-Mas o tio não tem nenhum pinheiro no jardim, aliás não tem árvore nenhuma… só a relva inglesa.

-Além, do lado de lá da rua. Estás cego ou que? Já viste a figuraça que mete? Paulinho, pára de assoprar às minhas velas, sacana! - gritou ao miúdo que empoleirado no muro - Essas são das que voltam a acender! Raio do garoto… tal e qual o bêbado do pai.

-Mas… o tio acendeu velas no pinheiro do vizinho da frente? Do senhor Bernardo?

-E depois? Não era esse caramelo anafado que andava sempre com a boca cheia do espírito de Natal vivo todo o ano? Então agora tem o meu espírito de Natal mesmo à porta… quando chegar de casa da filha… aquela divorciada gorda dos olhos vesgos e feia como a avestruz da mãe.

Fiquei sem saber o que dizer quando os bombeiros chegaram à aldeia para se limitarem a ver arder o pinheiro enquanto bebiam umas cervejas que o tio Eugénio lhes ofereceu e aqueciam as mãos no que restava das brasas, aproveitadas ali mesmo para assar umas chouriças.

Era mesmo espírito de Natal a cena em presença… Oh homens de boa vontade ou pelo menos muita vontade.. que nem jantar ainda tinham jantado àquela hora da noite.

1 comentário:

Cusca Endiabrada disse...

ihihihihihihih Cusca como sou, era lá capaz de vir espreitar e sair de mansinho sem dizer nadika?!!

Cusquice é comigo e para fazer jus ao nome, espera que vou já contar a toda a Aldeia ihihihih

Isto sim, é uma perfeita descrição de espírito natalício.

hummm o que me parece mesmo in-provável é esse espírito de Natal tenha durado mais que umas horas, talvez o tempo decorrido em alegre camaradagem com os vizinhos, entre o empinar dum copito de vinho novo e um botar abaixo algumas fatias de queijo de cabra e umas rodelas de fumeiro ihihihi

história bem engendrada

dentadinhas diabólicas