quarta-feira, janeiro 23, 2008

ULTIMO FUMO

















Naquela sua tendência evidente de quem é capaz de matar por protagonismo mediático, Francisco George cofia as barbas de elfo cinzento fracassado. Enquanto isso, com aqueles olhinhos perscrutadores de vícios alheios dizia de modo lancinante “Deixe-me concluir”; Mas nunca concluía nada, apenas por que se perdia entretido nas rotundas dos delatores dos pecados e dos pecadilhos alheios, nas curvas da intolerância obsessiva e em cada cruzamento de argumentos da nova igreja universal, desta amostra civilizada de política de assepsia social. A cada perdigoto seu, perdiam-se milhões de ideias subsequentes com que poderia um dia concretizar a criação do seu de guetto moral.

A seu lado, de nome impronunciável, o acólito da saúde a todo o custo, anuía sempre que possível e mesmo quando o não era.

Entretanto, lá prosseguia naquele seu estertor de balbucios indispostos, dispépticos cheios de odor a superioridade moral, que lhe brotavam, talvez, do seu fígado gordo de palhaço de ar saudável.

O apóstolo da temperança tabágica, o irredutível paladino da saúde esverdeada e espúria, o arauto dos legalmente amestrados pelas proibições em nome dos ambientes moralmente “sãozinhos”; Como se de um tio* se tratasse, eructava suas razões, do alto do jetzero; Como se fosse o mais democrático dos discursos, no mais legalista dos debates entre os sem razão e os sem consciência, era ele o gargântua da malta da correcção política, de todos os discursos, actos e divisões.

Mais ou menos intervalo, abundantemente publicitado; Mais ou menos moderação, por parte da super-tia, eminentemente parda como todas as eminências pardas que não são cardinalícias, o "reality show" lá continuava entre palmas e palmadinhas nas costas.

De um lado os ex-fumadores, aviltados e religiosamente/intolerantemente cumpridores das exigências que apenas as razões da nomenclatura politica situacionista justificam.

De outro, os vitimizados, acordados apenas há pouco para a lamacenta intolerância em que há muito nos querem fazer chafurdar.

Continuarei fumador mas jamais clandestino ou ilegal. Serei potencialmente perseguido, mas nunca perseguirei quem quer que seja por acreditar nas suas opiniões ou hábitos. Não admito que me retirem o direito de escolha se todos o podermos exercer. Mas, sobretudo, recuso-me a comer palha, ainda que lhe retirem a cafeína, as calorias, gorduras, sal ou mesmo que adoçada com adoçante; Quando o seu real sabor é, ainda e sempre, o do economicismo cínico, intolerante e objectivamente fundamentalista nos costumes que não sendo os nossos jamais serão os meus.

Quase tudo isto, me recorda as práticas de alguns missionários espanhóis, que em nome da alma dos índios, lhes destruíram a cultura a sociedade, a civilização e a própria vida. Os que sempre condenaram tais actos (salvo raras excepções) são aqueles que agora adoptam medidas semelhantes.

* A palavra “tio” encontra-se salientada como singela homenagem a um amigo (Henrique http://naquela.horabsurda.org/) que não conheço pessoalmente mas que tenho a certeza que o seria e que se encontra hospitalizado. Daqui lhe envio o melhor dos abraços e o desejo de depressa voltar a lê-lo e à sua prosa rara e esclarecida.

6 comentários:

aquelabruxa disse...

cada vez fumo mais... lol
cada vez tenho mais consciência de que é uma droga lixada, sinto-me uma viciada em heroína por não conseguir deixar de fumar cigarros. ou é porque me sinto bem, ou é porque me sinto mal, há sempre uma razão para fumar, e sinto-me mesmo intoxicada.
mas não sou contra nem a favor... ANARQUIA!

H. Sousa disse...

Viva, caro Rui! Já estou de volta, embora com sequelas que vão sendo acompanhadas com atenção.
O título do post condiz comigo, talvez esta estadia no hospital, que nada teve a ver com doenças do tabaco, me tenha levado a deixar de fumar. Desde há um mês que não fumo e, se conseguir manter-me "limpo", ficarei satisfeito por não andar a sustentar "tios" através do tabaco.
As eventuais quebras das vendas de tabaco já foram compensadas com o aumento de 10%. O tabaco, segundo dizem, dá mais dinheiro ao Estado do que ele gasta com o SNS.
Abraços e obrigado pela referência

Anónimo disse...

Francisco George.....¿Anti- tabaquista como Trinidad Jiménez- Villarejo?

Anónimo disse...

gripe espanhola

Anónimo disse...

Trinidad Jiménez Villarejo, Spanish Health Minister.....Ignores own no-kissing advice at (spanish) flu event ?

Anónimo disse...

Dra. Ana Jorge.....admitiu ser vacinada Gripe A ?